O Materialismo e a Negação de Deus

Autora: Norma Braga

Fonte: http://normabraga.blogspot.com/

O autor francês Jean-Paul Sartre defendia o ateísmo sem esconder dele sua aridez, reconhecida por ele ao confessar (creio que com algum orgulho) a dificuldade sofrida por quem quer que almejasse rejeitar todo sentimento do absoluto. Afirmava que o ateísmo é “a convicção de que o homem é um criador e que está abandonado, sozinho no mundo” e “no seu sentido mais profundo, um desespero”. O ateu, para ele, era como o cavaleiro solitário a pregar a esperança apesar de toda ausência de garantias. Esse discurso ainda sobrevive e dá muito ibope entre os teóricos modernos; mas pergunto-me: quem é o ateu “puro”, principalmente no Brasil, terra das religiosidades várias e pululantes?

Hoje, em uma época de poucos aspirantes a heróis solitários e de uma certa obsessão pelo conforto (sobretudo espiritual), o ateísmo tout court e sua negação de Deus parece ser tendência menos popular que a de diminuí-Lo sob vários aspectos, segundo cada corrente: humanizá-lo para se declarar “seu inimigo” (satanistas), retirar dele atributos inerentes como a soberania e a presciência (liberalismo teológico, teísmo aberto ou relacional), reduzi-lo a uma “força” impessoal pronta a ser utilizada (esoterismo, paganismo, paulocoelhismos em geral). Face a essa ampla gama de maneiras de negar indiretamente o Deus cristão, podemos pensar que o ateísmo puro funcionou menos como uma opção válida de explicação para a condição humana que uma preparação da abertura de comportas para essa salada mística que caracterizará a era do Anticristo – em que cada ingrediente, por mais díspare do outro, contribuirá para um só objetivo comum, qual seja, o deslocamento da religiosidade para a força do próprio homem.

Assim como a noção de Deus não desaparece mas é vilipendiada através da inflação do poder humano, nas mais variadas áreas do pensamento é fomentada a idéia de uma “transcendência imanente”. O roteiro desse fomento ecoa as sucessivas mutações da negação de Deus: primeiro, nega-se toda transcendência, sobretudo no meio científico; depois, admite-se alguma, mas sempre pelas mãos humanas, e sobretudo nas artes. (Já ouvi em sala de aula, pela boca de uma estudante de pós-graduação em Letras, a pomposa frase “só a arte pode dar conta da religiosidade”, a que todos assentiram silenciosamente – apenas a minha voz se fez ouvir, “como assim?”, e não obtive resposta direta.) Aos poucos, um materialismo mutante se imiscui em todas as áreas – categórico nas ciências, travestido de “condição humana” na filosofia e nas artes –, enquanto, em paralelo, as transcendências imanentes proliferam em idolatrias artísticas e sistemas pseudo-religiosos facilmente adaptáveis ao gosto do cliente. Desse modo, onde o materialismo não pode anular por completo a sede humana de transcendência, ele a desloca para objetos finitos e fins imediatos.

Mas a verdadeira finalidade do materialismo – a negação direta ou indireta do Deus cristão, pessoal e soberano – nunca pode ser totalmente ocultada. Isso é patente na descoberta que nos apresenta o pastor Richard Wurmbrand em seu livro sobre o pensador que construiu todo o seu sistema sobre o materialismo: Karl Marx. Segundo Wurmbrand, nem Marx era ateu, mas sim satanista. Não admira, nem um pouco.

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