Eis nossos companheiros de muitos anos. A ciência da informática proporciona ao homem muitos benefícios. A agilidade nas informações é um deles. E aproxima as pessoas. Por outro lado, no caso dos computadores, nos causa, não raro, prejuízos financeiros, ansiedade e decepção.
Os apetrechos das fotos são nossos conhecidos. Fiz questão de destacar a “PLACAMÃE”. Como seu nome indica, é a mãe de todos os componentes, o coração do computador. Como mãe, rainha e cérebro das entranhas dos computadores, pela importância da função deveria ser imune às tentações externas, às investidas dos invasores extremistas, fundamentalistas, terroristas e demais “istas”. Como mãe, deveria, por dever de ofício, orientar seus filhos a viverem em harmonia, a serem firmes como uma rocha, vacinados contra as doenças informáticas.
Mas não. Ela se deixa vencer. Não digo pelas paixões infames, por tratar-se de objeto inanimado. Digo, porém, que é fraca, perecível, pusilânime. Deveria ter mais solidez, robustez e durabilidade. Basta um pequeno furo nos seus contornos, uma ruga qualquer invisível ao olho humano, mas visível aos olhos dos técnicos; basta um pequeno arranhão, e ela descamba, perde a potência, a lucidez, o siso, enlouquece e trava. Já era.
Nenhum remédio consegue reanimá-la. Embora de material sólido, é frágil como uma flor. Da flor, somente a fragilidade. A sua beleza é metálica, mecânica, impassível. Talvez suas múltiplas funções sejam o fator preponderante de seus constantes fracassos. Têm maior possibilidade de errar os que mais trabalham.
A famosa placamãe apresenta-se como uma esfinge a nos dizer: “Decifra-me ou te devoro”. Devora nosso dinheiro. Só os bons técnicos conseguem traduzir seus hieróglifos. Como as pirâmides do Egito, ela guarda a sete chaves seus segredos. Qual cérebro humano possui uma rede de muitos conectores interligados. Responsável pela interconexão de todas as demais peças: DH, teclado, mouse, placa de vídeo, memória. Olhe com atenção na figura e veja quantos labirintos.
Prefiro o nome “placamãe” ao estrangeirismo “hardware”, “motherboard” e “mainboard”.
Finalmente, apresentei minha ex-mãe, digo, minha ex-placa. Ao adquiri-la, fiquei enamorado. Foi amor à primeira vista. Tentei acariciá-la, mas ela me deu um chega pra lá e mostrou-me seus dentes metálicos e pontiagudos.
As placasmães guardam mistérios que só os iniciados entendem. Há algo de esotérico nessa área.
O atestado de óbito do técnico – “É a placamãe” – acelera os batimentos cardíacos e alteram as glândulas sudoríparas. Suamos por todos os poros. Alguns podem sentir um friozinho na barriga que resulta em distúrbios disentéricos. Pior é quando são emitidas duas ou três notas de falecimento: o cooler pifou, a memória está ultrapassada, a fonte secou.
Nada mais a fazer. Urge preparar o funeral. Costumo ficar com os restos mortais. Levo-os para o meu cemitério particular. Visito-os de vez em quando. No velório, sem mágoas, exalto as qualidades de todos eles, e fico a meditar nas alegrias que me proporcionaram. Que durmam em paz.
12.01.2009