O Jesus do Novo Testamento

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483&num_edicao=280

Jesus no topo

O cristianismo ainda é a maior religião do planeta (mais de 2 bilhões de fiéis). Isso, porém, não significa que todos os cristãos acreditam no Jesus do Novo Testamento.

No outono de 1994, os teólogos liberais norte-americanos que participam de um grupo chamado Seminário de Jesus examinaram a questão do nascimento virginal e 96% deles concordaram que esse fato nunca aconteceu. Eles afirmam também que Jesus nunca ressuscitou e nunca foi assunto aos céus.1

Um terço dos clérigos da Igreja Anglicana questionam a ressurreição física de Jesus. A metade deles não acredita no nascimento virginal do Senhor.2

Aqui no Brasil, muitos cristãos nada entendem do sacrifício vicário de Jesus. Pensam que Ele morreu por causa da traição de Judas, por causa da inveja dos líderes religiosos de Jerusalém, por causa da covardia de Pilatos, por causa do destino (“estava escrito”). Não se deixam impressionar por aquela elucidativa declaração de Jesus: “Ninguém tira a minha vida de mim, mas eu a dou por minha própria vontade” (Jo 10.18, NTLH). Não poucos brasileiros (no mínimo 35%) têm a vaidade de afirmar “sou católico de batismo e kardecista de convicção”. Bem antes de morrer, o governador Mário Covas confessou: “Minha formação é católica, embora eu pessoalmente acredite no espiritismo”.3

Embora a teologia católica nunca negue que Jesus morreu por nossos pecados, a ênfase demasiada que a igreja dá a Maria muitas vezes tem escondido o rosto de Jesus. O povo recorre muito mais a Maria do que a Jesus. A prova disso é que cada vez aumenta mais a quantidade de títulos que se dá à bem-aventurada e agraciada mãe de Jesus – 300 denominações diferentes só no Brasil e cerca de 2 mil ao redor do mundo. Por pouco o Vaticano ainda não aprovou o dogma que faz de Maria co-redentora. Entre as vozes discordantes está a do frei Carlos Josafá, de São Paulo: “Não pode haver uma relação de igualdade entre Jesus e Maria”. Aprovar o dogma da co-redenção, continua o frei, “seria o mesmo que dizer que o Brasil tem dois presidentes”.4 Apesar de o dogma não ter sido aprovado, muitos católicos tratam Maria como co-redentora, quando não a imaginam acima de Jesus. O povo (só o povo?) diz que “Maria desatou o nó que Eva atou” e há imagens e gravuras que colocam a serpente sob os pés da mãe de Jesus. Ora, quem desatou o nó da culpa e do pecado foi Jesus, e não Maria; e quem vai esmagar a cabeça da serpente é Aquele que está colocando todos os poderes do mal “debaixo dos pés” (1 Co 15.25).

Uma reconsideração da mariologia por parte dos fiéis e da cúpula da Igreja Católica seria bastante oportuna. Sem dúvida, certo número de sacerdotes e de fiéis católicos está tomando todo o cuidado para não colocar Maria ao lado nem acima de Jesus. De acordo com a pesquisa Tendências Atuais do Catolicismo no Brasil, realizada pelo Centro de Estatísticas Religiosas e Investigação Social (CERIS), da CNBB, em 1999, 31% dos 5.218 entrevistados escolheram a opção “Jesus e seus ensinamentos”, e não a opção “Jesus, Maria e os ensinamentos da Igreja Católica”.5 Os protestantes poderiam colaborar com esse processo, abrindo mão de uma possível implicância contra a mãe de Jesus, uma reação extremada àquilo que chamam de mariolatria. O procedimento de João Batista deveria ser o nosso procedimento: “É necessário que Ele [Jesus] cresça, e eu diminua” (Jo 3.30).

Notas

1 “Time”, 10 abr. 1995, p. 37; “Manchete”, 15 maio 1995, p. 60.

2 “Christianity Today”, 9 set. 2002, p. 14

3 “IstoÉ”, 7 mar. 2001, p. 40.

4 “IstoÉ”, 25 jul. 2001, p. 107.

5 Idem, p. 102.

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