O Espiritismo manifesta sua incredulidade quanto à possibilidade de um corpo morto voltar à vida, quando declara:
“A ressurreição dá idéia de voltar à vida o corpo que já está morto, o que a Ciência demonstra ser materialmente impossível, sobretudo quando os elementos desse corpo já se acham desde muito tempo dispersos e absorvidos” (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec, cap. IV, item 4). Com essas palavras o Espiritismo rejeita a ressurreição de Jesus.
O Espiritismo deveria aceitar como verdadeiras, por óbvias razões, todas as palavras de Jesus. Quem afirmou isso foi o próprio Kardec ao dizer que Jesus foi a Segunda Revelação de Deus; que Jesus foi um Espírito Puro, que veio a terra com a missão divina de ensinar aos homens. Tais virtudes colocam Jesus numa condição de insuspeito em tudo aquilo que nos revelou. No momento em que não acredita na ressurreição corporal de Jesus, o Espiritismo ignora as afirmações do próprio Jesus. Também não dá crédito ao que disseram vários escritores bíblicos. Vejamos o que Jesus disse sobre sua própria ressurreição e sobre a ressurreição dos mortos:
“Mas, depois de eu ressuscitar, irei adiante de vós para a Galiléia” (Mt 26.32; Mc 14.28). “… mas recompensado te será na ressurreição dos justos” (Lc 14.14).
“E o entregarão [o Filho do homem] aos gentios para que dele escarneçam, e o açoitem, e crucifiquem, e ao terceiro dia ressuscitará” (Mt 20.19).
“Derribai este templo, e em três dias o levantarei” (Jo 2.19). “Quando, pois, ressuscitou dos mortos, os seus discípulos lembraram-se de que lhes dissera isso” (Jo 2.22).
“Mas os que forem havidos por dignos de alcançar o mundo vindouro, e a ressurreição dentre os mortos… porque já não podem mais morrer… os mortos hão de ressuscitar…” (Lc 20.35-37).
O que os outros disseram:
“Desde então, começou Jesus a mostrar aos seus discípulos que convinha ir a Jerusalém, e padecer muito dos anciãos, e dos principais dos sacerdotes, e dos escribas, e ser morto, e ressuscitar ao terceiro dia” (Mt 16.21).
“Ele não está aqui, porque já ressuscitou, como tinha dito. Vinde e vede o lugar onde o Senhor jazia. Ide, pois, imediatamente, e dizei aos seus discípulos que já ressuscitou dos mortos” (Mt 28.6-7).
“Porque foi para isto que morreu Cristo, e ressurgiu, e tornou a viver, parta ser Senhor, tanto dos mortos, como dos vivos” (Rm 14.9). “E que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (1 Co 15.4). “Depois foi visto, uma vez, por mais de quinhentos irmãos… por Tiago, por todos os apóstolos, por mim” (vv.6, 7,8). Em tom de repreensão, prossegue o apóstolo: “Ora, se se prega que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como dizem alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos? E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também vã a nossa fé… mas de fato Cristo ressuscitou entre os mortos e foi feito primícias dos que dormem” (vv.12-20).
Além desses registros, outras passagens mostram que Ele falou sobre uma futura ressurreição:
“Os que fizeram o bem sairão [dos sepulcros] para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal, para a ressurreição da condenação” (Jo 5.28-29; 6.39-40, 44,54). A Ressurreição coletiva ensinada por Jesus é detalhada por Paulo em 1 Tessalonicenses 4.16: “Os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro” (1 Co 15.23). Apocalipse 20.4-5,12-13 corrobora o ensino da ressurreição coletiva, no Juízo.
O outro “Jesus”
No livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo VI – 5, há uma declaração de um espírito, que diz ser Jesus, chamado de “O Espírito de Verdade”, nos seguintes termos:
“Venho, como outrora aos transviados filhos de Israel, trazer-vos a verdade e dissipar as trevas. Escutai-me. O Espiritismo, como o fez antigamente a minha palavra, tem de lembrar aos incrédulos que acima deles reina a imutável verdade: o Deus bom, o Deus grande, que faz germinem as plantas e se levantem as ondas. Revelei a doutrina divinal. Como um ceifeiro, reuni em feixes o bem esparso no seio da Humanidade e disse: “Vinde a mim, todos vós que sofreis”. Mas, ingratos, os homens afastaram-se do caminho reto e largo que conduz ao reino de meu Pai e enveredaram pelas ásperas sendas da impiedade. Meu Pai não quer aniquilar a raça humana; quer que, ajudando-vos uns aos outros, mortos e vivos, isto é, mortos segundo a carne, porquanto não existe a morte, vos socorrais mutuamente, e que se faça ouvir não mais a voz dos profetas e dos apóstolos, mas a dos que já não vivem na Terra, a clamar: Orai e crede! Pois que A MORTE É A RESSURREIÇÃO, sendo a vida a prova buscada e durante a qual as virtudes que houverdes cultivado crescerão e se desenvolverão como o cedro… Espíritas! Amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo. No Cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram. Eis que do além-túmulo, que julgáveis o nada, vozes vos clamam:
a) Jesus disse que viria com todos os santos anjos para julgar. Os condenados seriam enviados para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos (Mt 25.31,32, 41). Esse outro “Jesus” disse que “meu Pai não quer aniquilar a raça humana”. É claro. Deus não deseja a condenação de ninguém, mas fará justiça segundo a Sua palavra.
b) Jesus nos ensinou na história do rico e Lázaro que os mortos não podem ajudar os vivos (Lc 19.19-31). Esse “Jesus” exorta mortos e vivos a uma mútua ajuda.
c) O “Jesus” conclama a todos para não mais ouvirem a voz dos profetas e dos apóstolos, e sim a voz dos mortos. O Jesus bíblico, pela história de rico e Lázaro, ensina que devemos ouvir Moisés e os profetas, ou seja, a Palavra (Lc 16.29); já ressurreto, recomendou que o Seu evangelho fosse pregado em todo o mundo (Mt 24.14); orando pelos apóstolos disse que “tua palavra é a verdade” (Jo 17.17); disse também: “Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus” (Mt 22.29).
d) O “Jesus” declara que a morte é a ressurreição, tentando com isso afirmar que “com a morte do corpo o espírito liberta-se para o plano espiritual”, o que significaria uma ressurreição. O Jesus bíblico afirmou que a verdadeira ressurreição dar-se-á num momento futuro, e não logo após a morte: “Pois vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua [a de Jesus] voz e sairão” (Jo 5.28). Aqui Jesus fala de ressurreição corporal, idêntica à dEle. Ressurreição não é a libertação do espírito. Assim fosse, cada um teria sua ressurreição individual. Jesus afirmou que haverá um dia determinado para a ressurreição (Jo 5.25; 6.44,54; 1 Ts 4.16-17).
e) O “Jesus” falou de dois mandamentos: (a) Os espíritas deverão amar uns aos outros; e (b) todos devem adquirir conhecimento. O Jesus bíblico citou mandamentos diferentes: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento; amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22.37-40).
f) O “Jesus” disse que o caminho que conduz ao reino de Deus é “reto e largo”. O Jesus da Bíblia disse que “estreita é a porta e apertado o caminho que conduz para a vida” (Mt 7.14). É evidente que o caminho indicado pelo Espiritismo é largo, folgado, sem dificuldades: sem pecado, sem inferno, sem juízo final, sem necessidade de perdão, em que todos atingirão a plenitude, o clímax, a perfeição, mediante sucessivas reencarnações.
Observem: “E agora digo isto, irmãos, que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus…” (1 Co 15.50). Espíritas há que usam esse versículo para afirmar que não pode haver ressurreição corporal.
Os mortos em Cristo ressuscitarão, porém num corpo transformado, glorioso e espiritual, adequado às regiões celestiais. O corpo será o mesmo que desceu a terra, porém revestido de incorruptibilidade e imortalidade. Daí haver Paulo dito: “Os mortos ressuscitarão incorruptíveis” (1 Co 15.52). São os mortos que ressuscitarão, e não os espíritos. A ressurreição dos crentes será a grande vitória sobre a morte. Assim como Cristo venceu a morte, nós, com Ele, venceremos (1 Co 15.54; Hb 22.14).
Quando a Bíblia fala em ressurreição dos mortos está se referindo à ressurreição corporal destes. Vejam: “Assim também será a ressurreição dos mortos. Semeia-se o corpo em corrupção, ressuscitará em incorrupção. Semeia-se em ignomínia, ressuscitará em glória. Semeia-se em fraqueza, ressuscitará com vigor” (1 Co 15.42-43).
Será que Cristianismo e Espiritismo têm interpretações diferentes com relação ao termo ressurreição? Vejamos o que dizem os dicionários.
RESSURREIÇÃO – “Ato ou efeito de ressurgir ou ressuscitar”. Ressurgir – “Tornar a surgir. Reaparecer. Voltar a existir ou a viver” (Dic. Aurélio). “Volta miraculosa à vida” (Dic. Teológico, Claudionor C.de Andrade). “O ato de ressurgir, voltar à vida, reanimar-se. A ressurreição dos mortos ou do corpo é doutrina expressa da Revelação bíblica. Significa, de modo geral, e em linguagem popular, união da alma ou espírito ao seu corpo, após morte física, e, especificamente, a reunião da alma humana ao seu próprio corpo, após a morte física, na segunda vinda do Senhor” (Dicionário da Bíblia, John D.Davis, 21a edição).
Parece não haver dúvida a respeito da palavra ressurreição. Então, só porque a Ciência não pôde, não pode e jamais poderá explicar a ressurreição corporal de Cristo aceitaremos pacificamente que não houve ressurreição? Ora, a Ciência não explica milagres. Para relembrar, ouçam o que Kardec disse:
“A ressurreição dá idéia de voltar à vida o corpo que já está morto, o que a Ciência demonstra ser materialmente impossível, sobretudo quando os elementos desse corpo já se acham desde muito tempo dispersos e absorvidos”.
Jesus responde: “Aos homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível” (Mt 19.26).
Jesus ressurreto
Com relação à ressurreição de Jesus, Kardec argumenta o seguinte em seu livro A Gênese, cap XV-64-65, p. 302/303:
“O desaparecimento do corpo de Jesus após sua morte foi objeto de numerosos comentários… Uns viram neste desaparecimento um fato milagroso; outros supuseram uma remoção clandestina. Segundo outra opinião, Jesus não teria jamais revestido um corpo carnal, mas somente um corpo fluídico… e dizem que assim se explica que seu corpo, retornado ao estado fluídico, pôde desaparecer do sepulcro, e foi com este mesmo corpo que ele se teria mostrado depois de sua morte. Sem dúvida, um fato destes não é radicalmente impossível… Depois do suplício de Jesus, seu corpo lá ficou, inerte e sem vida; foi sepultado como os corpos comuns, e todos puderam vê-lo e tocá-lo. Depois de sua ressurreição, quando ele quis deixar a Terra, não morre; seu corpo se eleva, se desvanece e desaparece sem deixar nenhum sinal, prova evidente de que esse corpo era de outra natureza que não aquele que pereceu sobre a cruz; de onde será forçoso concluir que se Jesus pôde morrer, é que tinha corpo carnal”.
A ressurreição corporal de Jesus é uma verdade difícil de ser deglutida pelos contradizentes. Todavia, pela clareza contida nas Escrituras, não há outra saída senão aceitá-la. E não aceitá-la significa não crer nas palavras de Jesus e não crer que Ele foi, segundo o Espiritismo, a “segunda revelação de Deus” e um Espírito Puro que nos veio ensinar uma elevada moral. Ao aceitar a tese do corpo fluídico, o kardecismo afirma que Jesus viveu entre os homens como um fantasma.
Entendo que “corpo fluídico” seja corpo espiritual. Pergunto: corpo espiritual morre? Corpo espiritual ressurge dos mortos? Ora, a morte de Jesus na cruz é fato inegável. Portanto, a afirmação de que Jesus tinha um corpo fluídico, e mesmo assim morreu, é um grande equívoco. O Mestre disse mais de uma vez a seus discípulos que seria morto e ressurgiria ao terceiro dia (Mt 16.21). A essência do Cristianismo e a nossa esperança de vencer a morte repousam na inegável ressurreição de Jesus.
Onde está o corpo?
Se tudo depende da palavra da Ciência, poderia a ciência explicar a existência de um corpo fluídico, que tenha permanecido por mais de trinta anos na Terra, identificado em tudo como um homem de carne e osso? A Ciência poderia reproduzir em laboratório essa experiência sobrenatural do corpo fluídico? Claro que não.
O sepulcro onde puseram o corpo de Jesus estava fortemente guardado, segundo a Escritura do Novo Testamento (Mt 27.64-66). A ninguém interessava roubar esse corpo. Nem aos seus discípulos, fracos, perseguidos e desanimados; nem aos seus inimigos, temerosos de que o corpo desaparecesse (Mt 27.64). Bastaria aos inimigos da cruz apresentar pelo menos um osso de Jesus, e toda a pregação cristã cairia por terra. O túmulo vazio comprova a ressurreição corpórea de Jesus e é uma das verdades básicas da fé cristã.
Além das predições do próprio Jesus, afirmando que ressuscitaria ao terceiro dia, temos a Sua palavra incontestável, já ressurreto, afirmando que ressuscitou “corporalmente”: “Põe aqui o seu dedo e veja as minhas mãos. Estenda a mão e ponha no meu lado. Pare de duvidar e creia” (Jo 20.27).
Entenda-se que a redenção em Jesus não se limita ao espírito. A redenção alcançará todo o homem, assim compreendido corpo, alma, espírito. Vejam: “E, se o Espírito daquele que dos mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dos mortos ressuscitou a Cristo também vivificará o vosso corpo mortal, pelo Espírito que em nós habita” (Rm 8.11);… ”e também nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo” (Rm 8.23). A trasladação de Enoque (Gn 5.24; Hb 11.5) e Elias (2 Rs 2.11) confirma a doutrina da ressurreição corporal.
Sobre o corpo de Jesus, o Espiritismo diz mais o seguinte: “Se durante sua vida Jesus tivesse estado nas condições dos seres fluídicos, não teria experimentado nem a dor, nem nenhuma das necessidades do corpo; supor que ele assim era será tirar-lhe todo o mérito da vida de privações e de sofrimentos que havia escolhido como exemplo de resignação. Se tudo nele era só aparência, todos os atos de sua vida, o anúncio reiterado de sua morte, a cena dolorosa do Jardim das Oliveiras, sua oração a Deus para que afastasse o cálice de seus lábios, sua paixão, sua agonia, tudo, até seu último grito no momento de entregar o Espírito, não teria sido senão um vão simulacro para enganar com relação à sua natureza… Jesus teve, pois, como todos, um corpo carnal e um corpo fluídico, o que é confirmado pelos fenômenos materiais e pelos fenômenos psíquicos que assinalaram sua vida” (A Gênese, Allan Kardec, 14ª Edição, 1985, cap. XV-66, p.304).
Nessa última fala Kardec admite que o corpo de Jesus era real, isto é carnal, e assim Ele morreu. Tudo bem. E a ressurreição corporal? O Seu corpo carnal escafedeu-se? A tese da aparição do corpo fluídico após a morte, não do corpo carnal ressurreto, deveria explicar, cientificamente, se possível, qual o destino do corpo.
O mais sensato é admitirmos que Jesus ressuscitou corporalmente, apareceu a centenas de pessoas e retornará em glória para arrebatar a sua Igreja. Nessa ocasião, haverá uma ressurreição coletiva dos santos, segundo a Escritura (1 Ts 4.16-17). No final dos tempos, após o Seu reinado de mil anos, os ímpios também ressuscitarão, coletivamente, para receberem a condenação eterna (Ap 20.5).
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20.10.04
Revisão: 28.04.06