Pr. Airton Evangelista da Costa
Escrito em 31.08.2004
EU A CONQUISTEI há mais de uma década, em meio a uma tormenta, depois de cinquenta anos de luta. Eu corria muito pelos caminhos da vida, pulei muitos obstáculos, mas sem alvo definido. Não sabia ao certo o destino da corrida. Os atletas se esforçam por atingir o lugar mais alto no pódio. Eu corria sem saber a razão disso; trabalhava, comia, dormia e me divertia. A despensa sempre cheia, o salário sempre bom, o carro sempre novo, os amigos à minha volta. Pensava: Não há vida melhor!
Venci muitas batalhas e ganhei muitos troféus. Passei muito tempo sentindo a sensação de achar-me no lugar mais alto, alvo de atenções e mimos. As posições alcançadas no meu trabalho davam-me a sensação de vitória, de plena realização. O meu corpo estava bem alimentado, meus filhos bem criados, minha vida arrumada. Mas a minha alma estava faminta.
Não dava graças a Deus pela bonança, pela fartura, pelo conforto. Não dizia como Maria: “A minha alma engrandece ao Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador”. Se Maria precisou do Salvador, comigo não seria diferente. Na verdade, eu era senhor de mim mesmo.
Não estava preparado para enfrentar a grande tragédia da morte. Mas um dia tive de conviver com isso. Foi terrível. Os troféus ganhos se apresentaram de pequeno valor diante da tragédia. Nem dinheiro, nem plano de saúde, nem medicina, nem amigos; nada conteve os nefastos passos da morte. Deus levou a minha mulher. Antes, porém, fui agraciado com a maior e melhor das medalhas: JESUS. Ela também recebeu a Graça.
Nos primeiros dias da minha decisão, eu estava deitado no meu quarto, lendo o Evangelho segundo São João. Já estava no capítulo catorze. Quando terminei de ler o versículo seis, senti algo muito difícil de definir: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim”. Eu, que busquei verdades em caminhos tenebrosos, estava ali diante da Verdade. Após ler o versículo senti algo queimando em meu coração. Deus me dizia: “Aí está, Airton, a Verdade que você procura”. A vontade que tive foi de sair pelas ruas para dizer a todos que encontrei algo maravilhoso. Como chorei nos braços do Senhor naquela noite!
Ouçamos o Apóstolo: “Não sabeis vós que os que correm nos estádios, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis… e eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível, nós, porém, uma incorruptível. Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar. Antes, subjugo meu corpo e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado” (1 Co 9.24-27).
A partir daí comecei a ver a vida de modo diferente. Passei a dar menos valor às vitórias e troféus mundanos. Aquele encontro com a Verdade foi a maior das conquistas. Foi a minha medalha de ouro. Ela não estava reluzindo sobre meu peito. Estava bem guardada lá dentro, na minha alma, no meu coração.