Homens de Abate na China Comunista

Norma Braga

Uma das notícias mais tristes dos últimos tempos saiu no site Mídia sem Máscara: a denúncia, em 9 de março último, de um campo de concentração na capitalistíssima* China, em Shenyang, província de Liaoning. Cercado por muros de três metros de altura e protegido por um sistema elétrico, o campo destina-se exclusivamente a adeptos do Falun Gong (ou Falun Dafa). Trata-se de um movimento religioso descendente da antiga prática chinesa qigong, espécie de taoísmo voltado para o desenvolvimento físico e espiritual.

Criado por Li Hongzhi (que hoje vive de direitos autorais nos Estados Unidos), o Falun Gong se destina, segundo seu criador, à “purificação”, uma “troca de energia com o cosmos” para que se atinja um “plano superior” como forma de escapar à corrupção moral deste mundo. São expressões que surgem nas instruções gravadas por ele para a prática de seus exercícios, que associam movimentos lentos e controlados a técnicas respiratórias, ainda prometendo cura de doenças e rejuvenescimento. Alguns de seus seguidores minimizam o caráter mais “esotérico”, digamos, da seita, frisando que não há adoração de ídolos ou rituais de qualquer espécie e insistindo na liberdade de que seus adeptos gozam para dela entrar ou sair quando lhes apraz. No entanto, seu líder trata de “salvação” nos livros sobre a disciplina, adverte sobre um eventual contato com espíritos durante os exercícios e promove um certo sentimento cúltico em seus seguidores, ao atribuir a si próprio autoridade superior à de Maomé, Buda e, claro, Cristo. Mas deve haver quem o pratique apenas como exercício, como ocorre com a Yoga, por exemplo**.

Para o Partido Comunista Chinês, porém, pouco importa se o Falun Gong se aproxima mais de um culto religioso ou se destina apenas à promoção da saúde física e mental: por prevenção, sua prática é proibida em todo o território chinês. Não é difícil de adivinhar o porquê. Qualquer forma de contato com a transcendência, por mais inócua politicamente que possa parecer, constitui perigo para a legitimidade governamental comunista – pois, como sempre costumo afirmar neste blog, o comunismo se vale do desvio do desejo humano pelo transcendente para as instâncias de poder estatal, mundano. Por isso Lênin se declarou “inimigo de Deus” e o imanentismo é uma das características mais notáveis das doutrinas marxistas ou de raízes marxistas. Além do mais, malgrado as diferenças, tanto a doutrina do “mundo corrupto” que Li propaga quanto a do “mundo pecador” que nós cristãos pregamos são poderosos antídotos contra o engodo do ideal socialista (ideal que nunca chega). Não é à-toa que na China as igrejas cristãs também são duramente vigiadas e perseguidas, talvez mais moderadamente apenas por sua ligação com o mundo ocidental – “moderadamente” em comparação à perversidade mais flagrante dos campos, mas com torturas e mortes de líderes isolados, nunca devidamente noticiadas pela grande mídia.

Outro fator que torna o Falun Gong um inimigo mais temido que o cristianismo é a evidente superioridade numérica de que goza o primeiro: estima-se que na China o número de adeptos dessa seita seja maior que o de membros do próprio Partido Comunista, alcançando chineses de todas as classes sociais. Sendo assim, e ainda temendo que o movimento alcance proporções revoltosas, o governo chinês adotou a medida do campo de concentração, que dispõe livremente, desde 1999, das posses e da liberdade dos que teimam em praticá-lo.

Porém, o pior não é isso. Nos campos de concentração nazistas e comunistas, os corpos dos prisioneiros eram submetidos a torturas, trabalhos forçados e, em menor escala, experimentos científicos. Décadas depois, desceu-se um número considerável de degraus na escala da valorização humana ao atrelar-se à profusão de corpos dispostos pelo governo chinês uma necessidade comercial: a venda de órgãos. Desta forma, os prisioneiros desse campo são verdadeiramente “homens de abate” para a demanda altamente lucrativa do mercado de órgãos, disponíveis ali para o serviço carniceiro de uma equipe gigantesca de médicos que, não raro, terminam não suportando seu “trabalho” e fogem do lugar, sendo geralmente assassinados como queima de arquivo. O detalhe macabro é que, para a melhor conservação do órgão, as pessoas sofrem as operações ainda em vida, e um crematório de prontidão no local se ocupa da ocultação das “sobras”.

Eu avisei que era uma das notícias mais tristes dos últimos tempos. Não consigo escrever isto sem um grande nó na garganta. Esqueçamos por um momento essa farra de Dirceus, Delúbios, Valérios e Lulas – sem esquecer, no entanto, que as doutrinas que eles pregam precedem e respaldam esse horror – e comecemos a orar para que Deus tenha piedade do que ocorre fora do Brasil neste nosso pobre mundo, tão cheio de maldade. E, glória a Deus, Ele virá para nos redimir de todo mal.

*Apenas economicamente, e sem melhoria real para o povo. Politicamente, é o Partido Comunista Chinês quem manda e dá as regras. Sobre a precária situação do povo chinês, leia A China no Walmart, Olavo de Carvalho. Sobre esse tipo de combinação espúria capitalismo (econômico) + comunismo (político) como a nova forma de governo mundial, leia O império ecológico e o totalitarismo planetário, de Charles Lagrave.

** Como cristã, eu acho perigosíssimo, mesmo como exercício, esse tipo de atividade de meditação, ainda mais se prevê contato com espíritos. Mas obviamente o Partido Comunista Chinês, ateu e pouco preocupado com o bem-estar de seu povo, não persegue o Falun Gong por esse motivo.

Onde há comunismo ou socialismo, as maiores atrocidades são cometidas pelo governo, SEMPRE! Digamos NÃO a toda forma de perseguição religiosa!

Fonte: http://normabraga.blogspot.com

Nota: Quando pensamos que todos os limites de crueldade foram atingidos, eis que novos casos de barbárie surgem(Pr Airton)

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