Ex-Freira Conta Como Conheceu o Deus Vivo

Parar para escrever um testemunho é um momento de graça, de reconhecimento da bondade de Deus. Quem me conhece desde pequena, sabe o desejo do meu coração em servir ao Senhor desde a tenra idade. Lembro-me de ir com minha mãe à igreja evangélica e achar muito legal. Fui a algumas pentecostais, mas a que me marcou mesmo foi a Adventista do Sétimo dia. Eu não gostava de ir para a escolinha dominical, achava chato, eu queria mesmo era ficar com os adultos e ouvir a palavra de Deus ministrada pelo pastor. Eu ficava dentro do banheiro o tempo todo da escolinha, pois de lá eu consegui ouvir a Palavra. Hoje eu acho até engraçado, mas naquela época era bem complicado.
O tempo foi passando e a adolescência chegou com as dificuldades normais dessa fase, e então eu decidi que queria buscar a Deus do meu jeito.

Embora eu quisesse me desligar do que havia aprendido até aquela época, um hino teimava em ficar dentro do meu coração: Foi na cruz, foi na cruz, onde um dia eu vi, meus pecados castigados em Jesus… Eu havia escutado esse hino na casa de uma irmã muito querida, irmã Altina, com quem aprendi a adorar a Deus. Nessa época eu tinha mais ou menos uns 5 anos, mas esse refrão me acompanhou por anos a fio.

Nós morávamos ao lado da igreja Santa Zita, e umas freiras que lá trabalhavam despertavam em mim um sentimento muito bom, eram as irmãs Pias de São Paulo. Eu sempre dizia à minha mãe que quando eu crescesse queria ser missionária! Essa é uma lembrança muito gostosa, e talvez eu pensasse que ser freira seria concretizar esse desejo, porém esse pensamento acabou passando logo.

Com 14 anos comecei a participar de espiritismo, achando que ali seria o encontro que me faria feliz. Aos 16 me envolvi mais profundamente, chegando a ir algumas vezes a sessões de candomblé, mas quando me disseram que eu tinha que raspar minha cabeça, minha vaidade falou mais alto e eu saí de lá pra nunca mais voltar. Aquilo não era nada do que eu pensava. Todas as coisas que eu pensava encontrar lá caíram por terra quando percebi que Deus não poderia estar num lugar como aquele. Apesar de estar no lugar errado, minha busca era sincera, eu queria encontrar Deus, mas certamente ali Ele não estava.

Na igreja evangélica eu não queria ir, só de pensar em ser crente, já ficava arrepiada! Para mim era demais não poder fazer as coisas que eu queria e gostava. Eu achava que ser crente era ser preso, não poder fazer nada de legal, e sendo assim, não procurava mais, embora dentro do meu coração um imenso vazio me atormentasse todos os dias, e o refrão do tão teimoso hino continuasse insistindo. Eu sabia que meu “destino” era ser serva de Deus, mas ainda não havia descoberto como.

Quando completei 19 anos, uma amiga de escola me convidou para ir a uma missa. A primeira vista eu não quis, não. Inventei uma dor de cabeça e não fui. Mas ela insistiu tanto que acabei indo. Gostei de ter ido, embora eu tivesse pouco conhecimento sobre a igreja católica, já que meu pai era um católico de carteirinha e havia me ensinado todas as rezas.

Engajei-me na comunidade rapidamente. O “estar” com os irmãos era maravilhoso, me realizava. Eu não me preocupava muito com doutrina e lá na comunidade São Sebastião não importava muito isso, eles precisavam de operários! Fiquei lá durante 4 anos. Fui secretária da comunidade, agente da pastoral da criança, ministra de liturgia, voluntária na alfabetização de adultos, pregadora da secretaria Pedro e ainda cantava num conjunto litúrgico. Eu já achava que estava bom, pois eram tantas atividades, porém, meu coração ainda não me dava sossego, eu sentia que faltava algo, e esse algo eu pensava ser a vida religiosa, hoje eu sei o que era esse “algo a mais”, mas eu tinha que viver certas coisas para valorizar a presença de Deus na minha vida.

Em 1996 decidi dar um rumo à minha vida, e comecei a conhecer a vida das religiosas para saber como era servir a Deus na totalidade. Em janeiro de 1997 entrei para o convento com o coração feliz em servir a Deus. Nos 6 primeiros anos posso dizer que fui uma freira feliz. Até mesmo quando fiz os votos perpétuos, eu estava consciente da entrega, embora dentro do meu coração as dúvidas e incerteza fossem grandes, mas sempre elas eram dispersas pelo montante de trabalho que tínhamos. Em maio de 2002 um acontecimento iria mudar de vez minha vida tanto religiosa quanto cristã. Uma irmã muita querida, que até hoje eu gosto demais, me tratava sempre com muito carinho e acho que com o tempo confundiu as coisas, ocasionado muito sofrimento para ela e certamente para mim. Em função disso, saí da missão, pois já havia feito votos perpétuos e ela não, e por receio de que ela fosse embora eu me silenciei sem contar a verdade sobre quem era aquela irmã. Como o ditado diz quem cala consente, eu me calei e sofri as conseqüências do meu ato. Fui tirada das missões sutilmente. Já não saía mais de casa para nada, só para o trabalho. Isso me entristecia muito, mas eu achava que tinha que passar por aquilo. Foram 3 anos de muito sofrimento. Lembro-me de um dia na capela, chorando copiosamente, pedi a Deus que colocasse uma pessoa no meu caminho para eu confiar muito e buscar uma solução, já que eu estava começando a ficar deprimida de ficar só em casa. Minha realização de cristã era estar com outros irmãos, e ficar longe dos “pequeninos” era doído demais para mim. Aquele dia eu me derramei na presença de Deus como nunca havia me derramado antes. E Ele ouviu minha oração, mas do jeito Dele. Dois dias depois, o Pe. Zezinho me enviou uma lista com vários nomes de pessoas que ele gostaria que viessem gravar conosco. Liguei para todos e mantive contato com boa parte deles. Havia naquela lista padres, bispos, pastores, pastoras, leigos. Alguns responderam, outros não. Alguns me ligavam, outros não. E foi assim que o pastor Wagner entrou na minha vida. Ele era o mais difícil da lista, e o padre me cobrava sua presença. Com ele eu gastei muitos telefonemas, e-mails, etc. e no meio de tudo isso, acabamos ficando amigos. Aquilo me perturbava um pouco, pois não era normal uma freira amiga de um pastor. Aquilo me incomodava um pouco, já que eu pedira a Deus alguém para me ajudar, mas não pensei que seria um pastor! O tempo foi nos ajudando e nos afinamos tanto que essa barreira foi vencida. Eu o chamava de Wagner e ele me chamava de Márcia. O Wagner tornou-se uma “presença” evangélica na minha vida. Sempre nos respeitamos, nossas diferenças doutrinais não eram empecilhos para a amizade. Deus usou do amigo para me balançar. O testemunho dele como pessoa mexia comigo, e o ser crente já não era tão assustador como antes, mas ainda era só.

Eu estava vivendo um momento muito peculiar na minha vida. O fato de ficar mais em casa me proporcionou mais contato com a Palavra de Deus. A leitura da Bíblia tornou-se uma constante em minha vida. Todas as horas vagas eu lia alguma coisa, nem que fosse um versículo. Cada vez que eu lia a Bíblia, havia um misto de sentimentos no meu coração. Era uma alegria de entender o amor que Deus tem por mim, mas também eram dúvidas que me assaltavam, pois eu estava vivendo de forma muito diferente o aquele livro me ensinava. Fui conversar com muitos versados em Bíblia, padres conceituados, eles porem que me davam respostas que não me convenciam, ou me deixavam mais duvidosa ainda. Posso dizer que meu coração ardeu lá dentro e por causa disso eu não podia mais continuar na igreja católica, já que meu coração queria uma entrega maior, uma entrega a Jesus Salvador, um Jesus que eu ainda não conhecia.
Em agosto de 2004, pedi a dispensa dos votos, mais uma vez. O sofrimento da saída deu-se ao fato dos votos perpétuos, pois eu era a primeira professa solene a pedir saída. Durante 4 meses esperei a dispensa dos votos, em meio a muitas provações. Fiquei 17 dias numa chácara, sozinha para pensar nos meus atos.

Nesses dias meus companheiros eram a Bíblia, um escrito do Pr. Airton e do Pr. Norberto que achei na internet, rebatendo as 10 respostas à apologia católica [ela se refere ao artigo Vinte Razões Por que Não Sou Protestante], as poucas conversas com a saudosa D. Elzira, e as palavras do Wagner quando liguei para despedir-me: Não faça nenhum tipo de consagração! Não se ajoelhe diante de nada, nem de ninguém, agora você sabe que isso é abominável a Deus. Foram dias de muito sofrimento, físico e psicológico, mas eu sentia que era necessário passar por aquilo. Tive inúmeras chances de fugir, mas se eu fizesse isso, eu me sentiria uma desertora, eu queria sair de forma digna, do jeito que entrei.

Finalmente, dia 10 de dezembro a saída aconteceu. Dois dias depois seria meu aniversário, e foi o melhor presente que eu poderia ter ganhado!

No dia 1º de janeiro eu quis participar de um culto numa Igreja Batista; fui a Primeira Batista de Suzano e foi uma experiência ótima.

Em fevereiro fui morar em Valinhos, e chegando lá procurei uma Igreja Batista. Eu estava decidida a optar por Jesus; só precisava saber onde. Depois de muita procura encontrei a Batista Nova Vida, e no dia 13 de março de 2005 aceitei Jesus como meu Único Salvador, e no dia 26 de junho fui batizada. Esses dois momentos não sairão jamais da minha mente, foram momentos de muita emoção e alegria. Considero-me a mulher mais feliz do mundo, embora as provações sejam constantes, meu coração goza de uma paz que só pode vir de Deus.

Agora a luta é outra. Começar tudo de novo não é fácil, mas é uma experiência fantástica. A vida ganhou um novo sentido! Cada dia é uma experiência nova. O relacionamento com as pessoas é diferente, é mais amigo, mais próximo, mais verdadeiro.
Hoje eu sei que o que eu quiser saber, a resposta está na Palavra de Deus, pois “Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus!!” e as coisas que acontecem estão sob o olhar dele.

O Deus que conheci é um Deus Vivo, que posso encontrar a qualquer hora em qualquer lugar, sem necessidades de rituais, nem cerimônias, nem tradições.
Posso dizer como Jó: “Meus ouvidos tinham escutado falar de ti, mas agora meus olhos te viram!” (cf. Jó 42,5).

Márcia Almeida de Souza
Guarulhos, janeiro 2006.
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Acompanhei os passos da Marcinha – como carinhosamente é conhecida – após sua saída do convento. O pastor Wagner foi o instrumento usado por Deus para sua conversão. Foram muitas suas dúvidas; muitas mensagens trocadas, muita luta espiritual. Coloquei-me à disposição dela para divulgar seu testemunho. Passado quase um ano, eis aí o seu relato. Por uma questão de ética, ela não relatou todas as adversidades enfrentadas no convento. O importante é que ela está feliz. (Pr Airton Costa).

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