por Juliana Dias
Shofar. Teshuvá. Pano de saco. Estrela de Davi. Bandeira de Israel. Algumas igrejas têm adotado símbolos judaicos em seus cultos com o intuito de honrar e abençoar Israel bem como expressar sentimentos de arrependimento, quebrantamento e humilhação. De acordo com Ramom Tessmann, líder de louvor do Ministério Vida Nova, em Criciúma (SC), a introdução de ritos judaicos faz com que a Igreja não se esqueça desta nação, que deve ser vista com olhos de amor e não como um país qualquer. Ele cita o Salmo 22:6: “Orai pela paz de Jerusalém; prosperem aqueles que te amam” e diz que esse cuidado estava um pouco esquecido nas igrejas.
O músico Déio Tambasco, irmão de Duca Tambasco do Oficina G3, é de origem judaica e diz que o judaísmo se constitui de ações com a finalidade de lembrar as coisas boas que Deus fez. “Todos os mandamentos são ligados à lembrança”. Déio aponta alguns ritos que são utilizados pelos judeus como o Yom Kipur (Dia do Perdão), um jejum de 24 horas; Dia do Sucote (Cabana), quando os judeus moram em cabanas por um perído para lembrar quando foram libertos do Egito; jejum às segundas, abstinência de carne de porco; e etc.
Ele destaca que existem tradições em que a lei é especificamente para o judeu. “Não tem problema usar um shofar ou pendurar uma estrela de Davi, mas não se deve fazer isso com o propósito de cumprir a lei. Os gentios não têm essa obrigatoriedade, mas se optar por isso, deve fazê-lo por inteiro. Estamos na época da graça, mas para o judeu isso é representado pelas lembranças” , explica o músico. Déio acrescenta que em Gálatas, o apóstolo Paulo alerta quanto aos costumes judaicos nos cultos lembrando a graça e o sacrifício de Cristo para exortar a quem não é judeu, não viver como tal. “Vida de judeu não é fácil, é um povo abençoado, mas sofre muitas perseguições” , afirma.
O pastor Silas Malafaia endossa que o Evangelho veio para libertar do legalismo e que a carta aos gálatas é a carta de alforria da igreja. “Quanddo os cristãos judeus queriam introduzir ritos judaizantes, Paulo se manteve firme na posição para que a pureza do Evangelho permanecesse”, conclui.
A pastora e cantora Fernanda Brum, que estuda simbologia, explica que as pessoas devem conhecer o que estão usando e a razão, pois existem muitos judeus cabalistas, que são espíritas. Ela destaca que a Bíblia é muito tipológica, desde as pedras de Urim e Tumim até os cravos de Jesus, mas não se deve fazer disso um amuleto. Ramon concorda e diz que esses símbolos não podem se tornar um “deus” e algo obrigatório para adorar a Deus. Para Fernanda, esses códigos são válidos enquanto pontos de contato e cita o lençol de Paulo, usado como ponto de contato para a cura e para redobrar a fé. “As pessoas precisam estudar para saber o significado dos objetos”, aconselha. A cantora diz que o shofar, por exemplo, era usado, dentre outros propósitos, para chamar o povo ao arrependimento, e conseqüentemente, trazer a presença de Deus. “O shofar é um instrumento de adoração como a guitarra, o címbalo e as trombetas”, afirma.
O shofar tem sido utilizado por muitos ministros de louvor, em várias igrejas e isso tem causado questionamentos sobre a real necessidade de tê-los nos cultos. Fernanda argumenta que a audição é a janela da alma e é por ela que a musica entra. Então, o acesso ao ser humano depende do instrumento que se está ministrando. “Tons graves mexem com a carne; tons agudos abrem o céu. A macumba utiliza os tambores, que foram criados para adoração ao Senhor, porque eles rasgam a carne para que a pessoa fique aberta para o mundo espiritual. O shofar é nosso, porque não utilizá-lo?” Ela compara a boca com o shofar, pois a corda vocal é um instrumento de sopro. “Somos um shofar de Deus na terra”, declara. Entretanto, Fernanda alerta quanto aos símbolos satanistas que estão em toda parte. “Fui em uma igreja, onde o grupo de coreografia vestia um cinto com uma lua e uma estrela que significa ‘satanás vive’ “, lembra.
Fernanda relata uma experiência pessoal com os símbolos judaicos. Ela conta que está vivendo uma fase de recomeço em seu ministério, pois recebeu um chamado para um compromisso de arrependimento pela nação e por seus irmãos. A gravação de seu sexto CD teve uma preparação especial para marcar esse novo tempo. Ela vestiu-se de pano de saco, em sinal de humilhação, e realizou o jejum Teshuvá, que significa retorno e arrependimento . “O pano de saco é uma forma de deitar a minha glória no pó. Mas Jesus é a nossa Teshuvá e o maior exemplo de humildade”, declara.
O pastor Silas Malafaia, da Igreja Assembléia de Deus da Penha (RJ), diz que a Igreja está vivendo uma época de cultura e besteirol teológicos, pois muitas pessoas estão buscando identidade, novidades e querendo ser diferentes. Ele alerta que a utilização desses símbolos corre o risco de elevar Israel a um nível fora do contexto bíblico. “Temos de honrar e abençoar ao invés de imitar introduzindo a cultura judaica nos cultos”, diz. Silas critica o uso da bandeira de Israel por simbolizar o poder de uma nação, estipulando limites culturais. O pastor reforça que a igreja é transcultural. “Um árabe pode deixar de entrar na igreja, porque ele não gosta de Israel. Aí nós pegamos o Evangelho que é para todas as raças e damos a ele uma cultura humana, perdendo a essência da graça”, destaca.
Ele também fala sobre a importância que o shofar tem tido nos cultos, pois muitos atribuem ao instrumento a responsabilidade de trazer a glória de Deus. “O shofar hoje é o Espírito Santo. Ele é quem traz a presença do Senhor”, afirma. De acordo com Silas, enveredar por rituais e modismos denota falta de Palavra por parte da liderança para orientar a igreja. “Quando não tiver nada para falar para o povo, leia o salmo 119 e medite nele” , orienta. Entretanto, Ramon afirma que nem tudo o que é novo é modismo e justifica citando as tradições próprias de cada igreja. “Se fosse assim, todas estariam envolvidas em modismos (Assembléia de Deus, Presbiteriana, Batista, Quadrangular e etc), porque cada uma enfatiza um tipo de ensinamento bíblico e tem uma forma de trabalho (discipulado, evangelismo, liderança, testemunho, estudos bíblicos). ” Para o líder de louvor, a utilização de elementos judaicos é uma opção de cada igreja, “mas como já disse, não devemos deificar os símbolos”, finaliza.
Enfim, antes de adotar certos hábitos e costumes lembre-se da orientação de Paulo aos coríntios: “Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos entendimentos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo” (2 Co 11:3).
(Fonte: portal Elnet e Jetro)