Um dos efeitos colaterais da quarentena, que vai além de quarenta dias e se prolonga por tempo indeterminado, é o crescimento dos cabelos dos idosos. Vigiado dia e noite pela família – mulher, filhos e afins -, não podem sair de casa em busca de um cabeleireiro; e ainda se saíssem em nada aproveitaria, porque os salões estão todos fechados. Também nem todos os idosos possuem condições financeiras para pagar pelo serviço em domicílio.
Alguns são obrigados a entregar esse serviço aos cuidados da companheira ou de algum filho, que nem sempre executam esse trabalho com bons resultados.
Muitos estão acostumados a cortar o cabelo com o mesmo profissional há dezenas de anos. Bons tempos aqueles em que saíamos livremente para cortar nossos cabelos; ficávamos a jogar conversa fora por longos minutos; tomávamos um cafezinho, etc. Funcionava como uma terapia. Resolvíamos todos os problemas do Brasil. Reduziríamos drasticamente o número de parlamentares: de 513 deputados, para 20; o Senado ficaria com apenas 10 senadores. Só com a redução das despesas com cafezinho daria para construir centenas de casas populares por ano; redução pela metade do número de vereadores; prisão perpétua para corruptos e pedófilos. Concluído o corte do cabelo, estávamos felizes e aliviados.
Com o uso obrigatório de máscaras, esse desabafo ficou prejudicado.
Temos a esperança de que os velhos tempos voltarão. Quando? Melhor é parafrasear o salmista: Esperarei com paciência no SENHOR, e ele se inclinará para mim, e ouvirá o meu clamor (Sl 40).