A Poesia de Deus

Sob inspiração divina, um notável poema de amor saiu da lavra de Salomão, ressaltando, em metáforas e cânticos, a pureza do amor conjugal, o amor digno, nobre e puro entre cônjuges. No particular, é de fato uma obra-prima incomparável. Escrito cerca de 960 a.C., o Cântico dos Cânticos faz menção a umas quinze espécies diferentes de animais e vinte e uma espécies de plantas, além de referências geográficas. Apreciemos CANTARES, de Salomão:

“Beije-me ele com os beijos da sua boca. Melhor é o seu amor do que o vinho.Para cheirar são bons os teus ungüentos. Como ungüento derramado é o teu nome. Por isso, as virgens te amam. Eu sou morena e agradável, ó filhas de Jerusalém. Como as tendas de Quedar, como as cortinas de Salomão. Não olheis para o eu ser morena, porque o sol resplandece sobre mim”

“Dize-me, ó tu, a quem ama a minha alma: onde apascenta o teu rebanho, onde recolhes pelo meio-dia…? Se tu não sabes, ó mais formosa entre as mulheres, sai-te pelas pisadas das ovelhas e apascenta as tuas cabras junto às moradas dos pastores. Agradáveis são as tuas faces entre os teus enfeites, o teu pescoço com os colares. Enfeites de ouro te faremos, com pregos de prata”.

“O meu amado é para mim um ramalhete de mirra; morará entre os meus seios. Como um cacho de Chipre nas vinhas de En-Gedi, é para mim o meu amado. Eis que és formosa, ó amiga minha, eis que és formosa; os teus olhos são como os das pombas. Eis que és gentil e agradável, ó amado meu; o nosso leito é viçoso. Qual o lírio entre os espinhos, tal é a minha amiga entre as filhas”

“Qual a macieira entre as árvores do bosque, tal é o meu amado entre os filhos; desejo muito a sua sombra e debaixo dela me assento; e o seu fruto é doce ao meu paladar. Levou-me à sala do banquete, e o seu estandarte em mim era o amor. Sustentai-me com passas, confortai-me com maçãs, porque desfaleço de amor. A sua mão esquerda esteja debaixo da minha cabeça, e a sua mão direita me abrace. Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, pelas gazelas e cervas do campo, que não acordeis nem desperteis o meu amor, até que queira”.

“Esta é a voz do meu amado; ei-lo aí, que já vem saltando sobre os montes, pulando sobre os outeiros. O meu amado é semelhante ao gamo ou ao filho do corço; eis que está detrás da nossa parede, olhando pelas janelas, reluzindo pelas grades. O meu amado fala e me diz: levanta-te, amiga minha, formosa minha, e vem. Porque eis que passou o inverno: a chuva cessou e se foi. Aparecem as flores na terra, o tempo de cantar chega, e a voz da rola ouve-se em nossa terra. A figueira já deu os seus figuinhos, e as vides em flor exalam o seu aroma. Levanta-te, amiga minha, formosa minha, e vem”.

“Pomba minha, que andas pelas fendas das penhas, no oculto das ladeiras, mostra-me a tua face, faze-me ouvir a tua voz, porque a tua voz é doce, e a tua face, aprazível. o meu amado é meu, e eu sou dele; ele apascenta o seu rebanho entre os lírios. Antes que refresques o dia e caiam as sombras, volta, amado meu; faze-te semelhante ao gamo ou ao filho dos corços sobre os montes de Beter”.

“De noite busquei em minha cama aquele a quem ama a minha alma; busquei e não o achei. Levantar-me-ei, pois, e rodearei a cidade; pelas ruas e pelas praças buscarei aquele a quem ama a minha alma; busquei-o, e não o achei. Vistes aquele a quem ama a minha alma? Logo achei aquele a quem ama a minha alma; detive-o, até que o introduzi em casa de minha mãe, na câmara daquela que me gerou. Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, pelas gazelas e cervas do campo, que não acordeis, nem desperteis o meu amor, até que queira”.

“Quem é esta que sobe do deserto, como colunas de fumo, perfumada de mirra, de incenso, e de toda a sorte de pós aromáticos? Eis que és formosa, amiga minha, eis que és formosa; os teus olhos são como os das pombas entre as tuas tranças; o teu cabelo é como o rebanho de cabras que pastam no monte de Gileade. Os teus dentes são como o rebanho das ovelhas tosquiadas, que sobem do lavadouro, e das quais todas produzem gêmeos, e nenhum há estéril entre elas”.

“Os teus lábios são como um fio de escarlate, e o teu falar é doce; a tua fronte é qual pedaço de romã entre as tuas tranças. O teu pescoço é como a torre de Davi, edificada para pendurar armas. Os teus dois peitos são como dois filhos gêmeos da gazela, que se apascentam entre os lírios”.

“Antes que refresque o dia, e caiam as sombras, irei ao monte da mirra e ao outeiro do incenso. Tu és formosa, amiga minha, e em ti não há mancha. Vem comigo do Líbano, minha esposa, vem comigo do Líbano. Tiraste-me o coração, minha irmã, minha esposa. Tiraste-me o coração com um dos teus olhos, com um colar do teu pescoço. Que belos são os teus amores, irmã minha! Oh esposa minha! Quanto melhores são os teus amores do que o vinho, e o aroma dos seus bálsamos do que o de todas as especiarias”.

“Favos de mel manam dos teus lábios, ó minha esposa. Mel e leite estão debaixo da tua língua, e o cheiro dos teus vestidos é como o cheiro do Líbano. Jardim fechado és tu, irmã minha, esposa minha, manancial fechado, fonte selada. És a fonte dos jardins, poço das águas vivas, que correm do Líbano. Levanta-te, vento norte, e vem tu, vento sul; assopra no meu jardim, para que se derramem os seus aromas. Ah! se viesse o meu amado para o seu jardim, e comesse os seus frutos excelentes!”

“Já vim para o meu jardim, irmã minha, minha esposa; colhi a minha mirra com o meu mel, bebi o meu vinho com o meu leite; comei, amigos, bebei abundantemente, ó amados. Eu dormia, mas o meu coração velava; eis a voz do meu amado, que estava batendo; abre-me, irmã minha, amiga minha, pomba minha, minha imaculada, porque a minha cabeça está cheia de orvalho, os meus cabelos das gotas da noite. Já despi os meus vestidos; como os tornarei a vestir? Já lavei os meus pés; como os tornarei a sujar”?

“O meu amado meteu a sua mão pela fresta da porta, e as minhas entranhas estremeceram, por amor dele. Eu me levantei para abrir ao meu amado, e as minhas mãos distilavam mirra, e os meus dedos gotejavam mirra sobre as aldrabas da fechadura. Eu abri ao meu amado, mas já o meu amado se tinha retirado,e se tinha ido. A minha alma tinha-se derretido quando ele falara; busquei-o e não o achei; chamei-o, e não me respondeu. Acharam-me os guardas que rondavam pela cidade; espancaram-me, feriram-me, tiraram-me o meu manto e os guardas dos muros. Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, que, se achardes o meu amado lhe digais que estou enferma de amor”.

“Que é o teu amado mais do que outro amado, ó tu, a mais formosa entre as mulheres? Que é o teu amado mais do que outro amado, que tanto nos conjuraste? O meu amado é alvo e rosado; o primeiro entre dez mil. A sua cabeça é como o ouro mais apurado, e os seus cabelos são crespos, pretos como o corvo. Os seus olhos são como os das pombas junto às correntes das águas, lavados em leite, postos em engaste. As suas faces são como um canteiro de bálsamo, como colinas de ervas aromáticas. Os seus lábios são como lírios que gotejam mirra. As suas mãos são como anéis de ouro que têm engastadas as turquesas. O seu ventre é como alvo marfim, coberto de safiras. As suas pernas são como colunas de mármore, fundadas sobre base de ouro puro. O seu parecer é como o Líbano, excelente como os cedros. A sua boca é muitíssimo doce; ele é totalmente desejável. Tal é o meu amado, e tal o meu amigo, ó filhas de Jerusalém”.

“Para onde foi o teu amado, ó mais formosa entre as mulheres? Que direção tomou o teu amado, e o buscaremos contigo? O meu amado desceu ao seu jardim, aos canteiros de bálsamo, para se alimentar nos jardins e para colher os lírios. Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu; ele se alimenta entre os lírios”.

“Formosa és, amada minha, como Tirza, adorável como Jerusalém, imponente como um exército com bandeiras. Desvia de mim os teus olhos; eles me perturbam. O teu cabelo é como o rebanho das cabras que pastam em Gileade. Os teus dentes são como o rebanho de ovelhas que sobem do lavadouro, e das quais todas produzem gêmeos, e não há estéril entre elas. Como um pedaço de romã, assim são as tuas faces por detrás do teu véu”.

“Quão formosos são os teus pés nos sapatos, ó filha do príncipe! As voltas das tuas coxas são como jóias, trabalhadas por mãos de artista. O teu umbigo é como uma taça redonda a que não falta bebida. O teu ventre é como monte de trigo, cercado de lírios. Os teus dois seios são como dois filhos gêmeos da gazela. O teu pescoço é como a torre de marfim. Os teus olhos são como as piscinas de Hesbom, junto à porta de Bate-Rabim. O teu nariz é como a torre do Líbano, que olha para Damasco. A tua cabeça é como o monte Carmelo. Os cabelos da tua cabeça são como a púrpura; o rei está preso pelas suas tranças”.

“Quão formosa, e quão adorável és, ó amor em delícias! A tua estatura é semelhante à palmeira, e os teus seios aos cachos de uvas. Diria eu: subirei à palmeira; pegarei em seus frutos. Sejam os teus seios como os cachos da vide, e o aroma da tua respiração como o das maçãs, e os teus beijos como o bom vinho para o meu amado, que se bebe suavemente, e faz com que falem os lábios dos que dormem”.

“Eu sou do meu amado, e ele me tem afeição. Vem, ó meu amado, saiamos aos campos, passemos as noites nas aldeias. Levantemo-nos de manhã para irmos às vinhas, vejamos se florescem as vides, se abre a flor, se já brotam as romeiras; ali te darei o meu grande amor. As mandrágoras exalam perfume, e às nossas portas há toda sorte de excelentes frutos, novos e velhos, que guardei para ti, ó amado meu”.

“Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço, porque o amor é forte como a morte, e duro como a sepultura o ciúme. As suas brasas são brasas de fogo, como as labaredas do Senhor. As muitas águas não poderiam apagar este amor, nem os rios afogá-lo. Ainda que alguém desse todos os bens da sua casa por este amor, seria de todo desprezado”.

“Vem depressa, amado meu, e faze-te semelhante ao gamo ou ao filho das gazelas sobre os montes dos aromas”.

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