A caminhada

AOS 75 anos, quase vinte de atividade pastoral, já caminhei mais da metade da trajetória, sempre com o cuidado de não sair da trilha. Como um trem, manter-se nos trilhos, para não descarrilar e tombar é um imperativo vital. Ainda que cansados os pés, sei que é preciso prosseguir. “Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3.14). Somos peregrinos nesta terra. Nossos olhos estão fitos na Nova Jerusalém, a Canaã dos justos. Moisés tinha esse objetivo em mente. O que ele queria mesmo era cumprir sua missão e chegar ao destino. Foram anos difíceis. Havia obstáculos de grandes proporções. Havia um mar à frente e os carros de Faraó atrás, mas todos os inimigos foram vencidos e vencidas todas as dificuldades. “Todos estes morreram na fé, sem terem recebido as promessas; mas vendo-as de longe, e crendo-as e abraçando-as, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na terra” (Hb 12.13).
A caminhada às vezes se nos apresenta longa e cansativa. Sentimos não raro as pressões internas dos perturbadores. Como aves de agouro, os inimigos da cruz investem contra as ovelhas desatentas para incutir-lhes heresias destruidoras. Algumas vezes, percebemos o triunfo das trevas sobre a luz, da mentira sobre a verdade, embora saibamos que esse tripudiar é efêmero. Mesmo assim, há momentos de desânimo. “Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados. Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos” (2 Co 4.8-9).
O cansaço não decorre só do trabalho em si, das lutas do dia a dia, das vicissitudes do cotidiano. Não. Cansamo-nos quando vemos prosperar a iniquidade; quando assistimos ao avanço de ideologias diabólicas; quando olhamos de um lado para outro e não enxergamos força terrena capaz de deter esse avanço. “Dize aos filhos de Israel que marchem” (Êx 14.15). A ordem é para continuarmos a marcha, sem esmorecimento. O livramento vem do Senhor. As palavras do Senhor são um consolo: “E surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará” (Mt 24.11-12). Está escrito.
À medida que as dores de parto se intensificam e chegamos mais perto do fim de todas as coisas, o amor vai-se esfriando e os homens mais e mais se afastam de Deus; em vários países cresce o movimento para liberação total do aborto. O alvo é o assassinato de inocentes antes que venham à luz. Homens e mulheres se inflamam em paixões infames, em deliberada rebeldia contra os valores do casamento instituído pelo Criador. Deus, porém, não está de braços cruzados assistindo a tudo em atitude passiva: “Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza; e, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro; e, como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm; estando cheios de toda a iniquidade, prostituição, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade” (Rm 1.26-29). Diante de tantas maldades, promiscuidade e inversão de valores, a atitude da Igreja será de resistência. Os princípios cristãos devem ser preservados, ensinados e praticados. Ainda que o mundo inteiro esteja rumando na direção oposta à nossa, não importa; continuaremos inabaláveis em nossa fé.

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