TESTEMUNHO: 50 ANOS SEM JESUS
05.07.2002
Pr. Airton Evangelista da Costa
Por muitos anos, a meu modo, resisti ao mal, procurando viver uma vida pura: sem ódio, sem inveja, sem maldade. Todavia, a semente do mal estava em mim, pronta para germinar. Eu não sabia o que era “pecado original” ou “natureza pecaminosa”. Considerava-me bom e julgava que esse era o caminho, o único caminho. Também não pensava muito nessa história de salvação da alma, de vida eterna. Dos meus lábios nunca saíram palavras de adoração a Deus. Recorria a Ele nos momentos difíceis. E, por incrível que pareça, Ele me livrou algumas vezes da morte. A graça comum me alcançou. Muitíssimo pouco conhecia da Pessoa do Senhor Jesus. O Espírito Santo era uma Pessoa completamente desconhecida.
Navegava no mar da vida como um barco ao sabor das ondas e dos ventos, sem leme e sem comando. Nutria, porém, um grande desejo de conhecer o desconhecido: donde vim, para onde vou; qual o sentido da vida; qual a razão da existência do mundo, dos homens, de tudo.
Em busca de respostas procurei conhecer o espiritismo. Adquiri O LIVRO DOS ESPÍRITOS, de Allan Kardec. Quando via pela televisão as curas espirituais e fatos mediúnicos, fica mais animado a creditar mais e mais nessas doutrinas. Na minha mocidade, andei enamorado do Rosacrucionismo. Por alguns meses, recebi periodicamente as apostilas da Ordem, e uma vez por semana, de avental branco sentava-me diante de um espelho, ladeado por duas velas, para ler e meditar.
Em duas oportunidades frequentei um terreiro, não sei se de candomblé ou umbanda. A primeira vez por curiosidade. Ali presenciei manifestações demoníacas das entidades “pomba-gira”, “exu-caveira” e “preto-velho”. Vi e ouvi o dono do terreiro entregar seus filhos aos cuidados dessas entidades, porque estava próximo o Carnaval e muito sangue seria derramado, conforme sentenciou um dos “espíritos”. Certa vez conversei demoradamente com uma entidade chamada “cigana”, e fiz-lhe várias perguntas. Desconhecia o perigo a que estava me expondo.
A outra oportunidade foi quando uma adolescente que morava em minha casa – eu já era casado e com idade de 27 anos – ficou possessa, e me aconselharam a levá-la a um terreiro. Diziam que o espírito que nela estava era de um colega estudante, que falecera dias antes. Fomos à macumba: eu, a minha primeira esposa (hoje na glória) e um amigo maçom e espírita. Muito estranho aquele ambiente. Pouca iluminação, um ar pesado, o macumbeiro fumando um cachimbo. Colocaram a jovem no centro da sala. Ao seu redor fizeram um círculo com pólvora. Cânticos, passes, pólvora queimada, e etecetera e tal. Nada disso adiantou. Hoje eu sei que demônio não expulsa demônio.
Antes, um médico examinou a jovem e disse que sua doença não podia ser resolvida pela medicina. Desconhecia a causa da enfermidade. A manifestação era simples: ela ficava com as mãos fechadas, o corpo rijo, sem falar. Julguei que ela estivesse curada após a visita ao centro. Ao retornar à minha casa, o demônio voltou a se manifestar. Nunca presenciara tal fato. Não sabia o que fazer. Tinha medo de tudo aquilo. A quem apelar? Eu e minha mulher éramos totalmente inexperientes em casos dessa natureza.
Acordo com o diabo
Aguardaríamos o dia seguinte para decidirmos o que fazer. A noite foi de preocupação e medo. Sem saber, eu estava com um hóspede poderoso, mas não todo-poderoso; cruel, assassino e sanguinário. De vez em quando ia até à cama onde estava a jovem, no quarto contíguo ao meu, para dar uma espiada. Numa dessas visitas, notei que o demônio havia voltado. Sabia disso porque ela ficava com as mãos fechadas, os olhos abertos como em transe, e não dizia uma só palavra.
Então, reuni todas as minhas forças e o pouco de coragem que restava e resolvi enfrentar o “espírito”. Comecei a conversar com ele mais ou menos assim:
– Olha o que você está fazendo com essa jovem! Você está maltratando o corpo dela, prejudicando a sua vida. Uma vez que você já morreu, você deverá se convencer disso e seguir para o seu mundo espiritual. Vou rezar três ave-marias e três pai-nossos. Após a reza, contarei até três e então você vai embora. Combinado? Ela (ou ele), balançando a cabeça, selou o acordo. De fato, o “espírito” saiu e eu fui dormir aliviado.
Qual não foi a minha surpresa quando, no dia seguinte, manhã cedo, a jovem moça, de uns 15 anos, voltou a ser possuída pela entidade. Lembro-me bem. Dei-lhe uma revista para ler na esperança de que se ela ficasse com a mente ocupada o espírito não se aproximaria. Não adiantou. O “pai da mentira” quebrara o acordo.
Novo encontro
Abro um parêntese nessa história para dizer que trinta anos depois eu tive novo encontro com os demônios. Desta vez em situação bem diferente. Eu já conhecia as suas artimanhas. Sabia que o diabo é o maior inimigo de Deus e dos homens. Agora, eu possuía uma arma mais que poderosa; eu podia usar o poderoso NOME DE JESUS, que me outorgou poderes através de uma procuração registrada no cartório do céu e publicada na Bíblia Sagrada, conhecida e reconhecida em todo o mundo, e que está no Evangelho Segundo São Marcos capítulo 16, verso 17: “EM MEU NOME EXPULSARÃO DEMÔNIOS”.
Aconteceu esse encontro numa noite, provavelmente no ano de 1996. Eu passara uma hora dando o meu testemunho, falando exatamente dessas coisas, de como aceitei a Jesus, meus 50 anos sem Jesus, e outras coisas mais. Ao final, pedi que se aproximassem as pessoas interessadas em receber oração. Em primeiro lugar, veio uma mulher de uns 55 anos. Fiz a imposição de mãos, e logo o demônio se manifestou. Confesso que fiquei surpreso, mas não amedrontado. Aquela era a primeira vez que o diabo aparecia à minha frente, depois da minha conversão. Mas agora eu não iria dialogar, fazer acordos com ele, entrevistá-lo. Coloquei a mão na testa da mulher e, em alta voz, ORDENEI que ele saísse, em nome de Jesus. Ele ainda estrebuchou, balbuciou algumas palavras inteligíveis… e foi-se. Glória a Deus! Depois foi a vez de uma crente que estava afastada do Caminho. Um demônio mais uma vez se manifestou. Ela apresentou ânsia de vômito, um quadro que eu não conhecia. Expeli o intruso em nome de Jesus.
Voltemos ao caso da jovem. Resolvemos entregá-la a seus pais, residentes em São Luís, capital. Soube depois que ela estava frequentando um “adiantado” centro espírita”.
Curioso, ingressei na Maçonaria, mas não passei do “Grau de Mestre”, o terceiro grau. O maior grau é o trinta e três. Participei também do Rotary Club. Esses fatos ocorreram em uma cidade pequena do interior do Maranhão, e corria o ano de 1968.
Eu e o rio
Nos primeiros 5 anos de casado, de 1963 a 1970, passei por algumas dificuldades com dívidas e doenças na família. Também perigos de morte na infância e idade adulta. Certa vez, com idade de 5 anos, fui atraído pela beleza do rio Barra Nova, em Caicó (RN), minha cidade natal. A correnteza era forte. Eu estava só. Era tardinha. Eu e o rio. Senti o desejo de escorregar por uma pedra à margem e tomar um gostoso banho. Presenciara muitos garotos da minha idade ou mais velhos fazendo aquilo. Deveria ser gostoso. E assim fiz. A água foi subindo, subindo, enquanto eu procurava firmar meus pés no chão. Com água na altura do peito, comecei a me afastar da pedra, meu ponto de apoio; a minha segurança. A correnteza à margem não era tão forte, mas o bastante para arrastar meu corpinho. Reuni todas as minhas forças e consegui vencer a distância até a pedra, quem sabe a distância entre a vida e a morte. Eu estava só? Não. Aquele que disse “deixai vir a mim as criancinhas” não permitiu que o rio me levasse.
Uma passagem perigosa
Era noite e chovia a cântaros na capital ludovicense. No caminho, trilhos por onde um trem urbano passava. E por coincidência, eu, no meu fusquinha, estava no caminho do trem. Os vidros do fusquinha estavam fechados e embaciados por causa da água. Quase impossível era ouvir o apito de advertência do maquinista. Alguns obstáculos no asfalto forçaram-me a quase parar em cima dos trilhos. Minha esposa, ao meu lado, falou que estava vendo uma luz forte vindo em nossa direção. As mulheres são, de fato, muito observadoras. Não será o trem?, indagou ela. E era. Calmamente, sem ainda avaliar a extensão do perigo, engatei a ré e afastei-me dos trilhos. Um segundo depois o trem passava próximo ao para-choque do meu veículo. Uma terceira Pessoa estava viajando comigo. A graça comum do Altíssimo derramou-se sobre mim naquele momento.
Eu e o abismo
Sem muita experiência no volante, iniciei uma viagem do interior para a capital, no Maranhão, com a família (Zélia, minha esposa; Airton Júnior, Roberto Lopes, Lívia Cristina). Conosco também meu sobrinho Humberto. Iniciei a viagem logo depois do almoço. Duas horas mais tarde, dormi ao volante. O carro lentamente virou para direita onde havia um acentuado declive. Acordei com a pergunta assustada de Humberto: O que é isso tio? Ainda houve tempo de controlar o veículo e reconduzi-lo à estrada. Estávamos sós? Deus tinha um plano para Humberto, hoje pastor Batista em Brasília, e para mim, humilde servo do Senhor.
Eu e o Amazonas
Não me lembro se em 1976 ou 1977. Nas férias de julho fomos, eu e minha família, passar uns dias em Alenquer, cidade do baixo Amazonas, do Estado do Pará. Até Santarém, fomos de avião. De Santarém a Alenquer, de barco. Muitas vezes fiz essa travessia sem problemas, no período de dois anos e meio em que trabalhei no Banco do Brasil. O barco desliza sobre o rio Tapajós, num pequeno trecho, depois enfrenta o Amazonas, atravessando-o de ponta a ponta. Entramos no barco às 21 horas, armamos nossas redes (eu, Zélia, e os três filhos menores). A viagem duraria umas sete horas. Lá pelas duas horas da madrugada, começou uma tempestade com vento e chuva. O barco balançava muito. A água da chuva e das ondas encrespadas banhavam o convés e as redes mais próximas das laterais. Vi pessoas equipadas com coletes salva-vidas. Corri para apanhar alguns, mas o estoque acabara. Tantas vidas se perdem por falta desse acessório indispensável nas embarcações. Sabia que vários barcos já haviam afundado naquelas águas revoltas. Meus filhos dormiam sem se darem conta da situação. Eu e minha mulher estávamos acordados e indefesos.
O próprio dono da embarcação assumiu o comando, dada a situação emergencial. Éramos navegantes de um barco de pouco mais de trinta metros de comprimento, sem recursos tecnológicos de qualquer natureza; sem comunicação com o mundo; sozinho, perdido na escuridão da noite, debatendo-se no rio mais caudaloso do mundo. Meus filhos continuavam dormindo. Nunca me lembrei de perguntar-lhes o que eles sonhavam, e se sonhavam. Estávamos em viagem de férias. Um casal amigo nos esperava em Alenquer. Não havia tempo para murmurações, para a lógica, para deduções, pelo menos para perguntar a mim mesmo algo como “o que é que estou fazendo aqui?”
Nesses momentos só pensamos em salvar nossas vidas. Que bom seria se os homens meditassem sobre a imperiosa necessidade de serem salvos da morte eterna! Lembrei-me de Deus e comecei a orar, aliás, a rezar. Eu não sabia conversar com Deus. Oh! por que não me ensinaram a falar com o Pai? Mas Ele me ouviu assim mesmo. Não estávamos completamente desamparados naquele barco. Ele, Jesus, estava na fornalha comigo. A tormenta passou depois de umas duas horas de sufoco. Meus filhos acordaram manhã cedo, quando os primeiros raios do sol começaram a beijar as nuvens no céu…
Do Egito para Canaã
Como vimos, em várias ocasiões a misericórdia de Deus me alcançou, como o sol que ilumina ímpios e justos, ou como a chuva que cai sobre todos. Todavia, o meu coração não era do Senhor Jesus. Em tempos difíceis eu recorria a Deus; passada a tormenta, dEle me esquecia. Fraco, desprovido da armadura de Deus, sem fé, sem conhecimento da Palavra, tornei-me presa fácil do diabo.
Sem perceber a situação ao meu redor, comecei a gostar de bebida alcoólica. De início, bebia “socialmente”; depois, nos fins de semana e feriados. As minhas atividades externas de auditor permitiam que me ausentasse da família por períodos de até 30 dias. Impossível evitar o pecado do adultério nessas condições. O diabo estava assumindo o controle de minha vida. Sem que soubesse, eu estava sob as ordens dele. Hoje, ele ouve a minha voz e me obedece quando uso o nome de Jesus. Eu não tinha a menor ideia de como seria a minha travessia; se haveria travessia; porque a travessia; para que a travessia… mas Deus estava preparando a minha passagem pelo deserto até a terra de leite e mel.
Eu e a dor
Minha mulher, Zélia, começou a sentir dores no estômago. Durante uns dois anos consultou médicos e fez exames sem que o mal fosse diagnosticado. Depois, o resultado: câncer. Sem êxito a operação a que se submeteu para extrair parte do estômago. Uma extensa área já havia sido infestada pela maldita doença. “INOPERÁVEL” – Esta palavra até hoje soa nos meus ouvidos. Foi como um tiro no meu coração. Difícil é não voltar a sentir as mesmas dores e derramar novas lágrimas ao relembrar aquele momento. O médico responsável pela cirurgia me chamou. Zélia ainda estava na mesa de cirurgia. Ele disse de forma seca e profissional: – Inoperável. Nada mais a fazer. Agora, viriam os tratamentos para aliviar as dores e prolongar a vida da paciente.
Comecei a caminhar no meu deserto. Por algum tempo só eu e o médico sabíamos da gravidade do problema, o que aumentava meu sofrimento. Então – perguntava eu – para que serve a ciência? E o meu plano de saúde? E a Medicina? E os remédios? Eu me senti um trapo, um inútil, um sujo, um imundo diante de Deus. A partir desse momento, comecei a buscar a Deus todos os dias, horas e minutos. Chorava, gritava, clamava, pedia, orava. Dizia: Senhor, o pecador sou eu, o traidor sou eu, então tira a minha vida; eu dou a minha vida para que ela viva. Como eu sofro e choro ao relembrar esses momentos difíceis, mas, hoje eu sei, necessários à minha conversão. Quantas vezes tive que chorar escondido de Zélia! Não há como descrever todos os lances de angústia, dor e desespero.
Arrependimento
Os valores do mundo morreram para mim. Reconhecia agora a fragilidade de minha vida espiritual. Longos anos passei pensando apenas no meu corpo. Agora eu sentia o gemido da minha alma. Eu, de fato, era um miserável pecador. Como num filme de terror, passavam por minha mente as minhas transgressões e me dilaceravam. Cortavam-me como navalhas. Por meses e meses chorei amargamente. Não quis dividir com mais ninguém a minha dor. Eu e Deus, nós dois, juntos, caminhando no deserto.
Uma porta aberta
Numa determinada noite eu saí com o desejo de recolher-me numa igreja para ficar a sós. Desejava sentir a presença de Deus; que Deus me ouvisse. Iria encontrar-me com Ele até nas profundezas do mar. Passei por um templo da Igreja Católica, mas estava fechado. Procurei outro na rua Desembargador Moreira, também fechado. Resolvi seguir para casa. Zélia me esperava. No caminho, na rua Padre Antonio Tomás, bairro Aldeota, em Fortaleza, Ceará, avistei à minha esquerda um salão bem iluminado, e, na calçada, algumas pessoas portando bíblias. Hoje eu sei que foi o Espírito Santo que virou a minha cabeça em direção àquele lugar. Parei o carro, atravessei apressado a avenida e comecei a subir os degraus do templo da Igreja Batista Alvorada.
Não pude falar. A mulher do pastor veio ao meu encontro. Logo, várias pessoas me cercaram. Eu apenas balbuciei: Minha mulher está com câncer. Fui pedir socorro para Zélia, mas eu também estava precisando de tratamento urgente. Deus sabia disso. Há quantos anos eu não entrava numa igreja evangélica? Há uns trinta, talvez. Deram-me uma Bíblia de bolso, o melhor presente que recebi nos últimos 50 anos. Contei tudo a Zélia.
Conversão
No culto oficial de louvor a adoração, num domingo, quase não esperei o pastor concluir o convite; corri e disse resoluto: Eu quero aceitar Jesus como meu Senhor e Salvador. Após uma semana, foi a vez de Zélia entregar sua vida a Jesus.
Batismo
Alguns meses depois descemos às águas, eu e Zélia. Impossível esquecer aquele momento. Nós dois molhados, abraçamo-nos demoradamente no púlpito. Ela estava linda! A glória de Deus estava naquele lugar. Esquecemos a doença, a dor, o sofrimento. Era como se estivéssemos ganhando a liberdade, qual borboleta ao sair do recipiente escravizante. As palavras não podem descrever tamanha emoção, tamanho júbilo.
Com sede e fome da Palavra, iniciei imediatamente a leitura da pequena Bíblia que ganhei. Lembro-me muito bem, eu folheava o Evangelho segundo João, passando a vista pelo capítulo 14, verso 6. Ali Jesus estava declarando: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim”. Nunca houvera lido uma frase tão forte. Senti uma emoção estranha que nunca consegui definir. Corri para mostrar o achado a Zélia, como se estivesse descoberto uma pedra preciosa. E era. Zélia – disse-lhe eu – se Jesus não era um louco nem um mentiroso, então é esta a verdade que eu estava procurando. Li e reli aquela passagem. Sinceramente, tive vontade de sair pelas ruas comunicando o achado.
E assim, durante os sete meses seguintes em que durou o seu tratamento quimioterápico debrucei-me sobre a Bíblia com avidez. O que aprendia era repassado a Zélia, pois desejava que ela crescesse logo, na graça e no conhecimento.
A conversão do Roberto
Minha casa transformou-se em casa de oração. Daí iniciou-se minha aproximação com pentecostais. Ao término de uma dessas orações, meu filho Roberto encarregou-se de dar carona a um dos irmãos, que morava num bairro distante. Conversando os dois pelo caminho, Roberto disse: “Gostaria de ser crente, mas gosto de cerveja, de dançar, e tenho algumas namoradas. Eu teria que deixar tudo?” O irmão, com sabedoria, respondeu: “Aceite Jesus do jeito que você estiver. Jesus veio para os doentes”. Tudo isso se passou no ano de 1992. Mas ou menos à meia noite meu filho voltou, e foi logo me dizendo: “Papai, acabei de aceitar Jesus como meu Senhor e Salvador. Agora passe aquele óleo na minha testa”. Eu passei o óleo e o abracei demoradamente. Era novo convertido e não conhecia muito bem sobre a unção com óleo. Graças a Deus, até hoje, Roberto, atleta de Cristo, está firme no Caminho.
A conversão de Lívia
Minha filha Lívia Cristina estava embalando no colo seu filho, mais ou menos às 23 horas, quando teve uma visão terrível. De olhos abertos, viu o rosto do diabo à sua frente, a uns três metros de distância: olhos grandes e vermelhos; um sorriso zombeteiro e sarcástico. Somente no dia seguinte ela me contou a visão. E disse-me: “Chame os irmãos. Quero entregar a minha vida a Jesus”. E assim foi feito. O plano de Deus para nossas vidas começava a ser delineado e compreendido. Mudanças radicais ocorreram em minha vida. Eu, que me sentia envergonhado quando não tinha em casa um uísque de boa qualidade para oferecer aos amigos, além de cerveja e aguardente de cana, joguei fora todo o estoque de bebida alcoólica. Algumas poucas imagens de santos falecidos também foram para o lixo.
Voto
Em São Paulo, no Hospital do Câncer, para onde levei Zélia para uma segunda cirurgia, sem sucesso, prometi a Deus construir um templo e viver o resto da minha vida para a pregação de Sua palavra. Cumpri o voto com relação ao templo, e o estou cumprindo com relação à Palavra.
Realmente desci à casa do oleiro e lá continuo sendo moldado segundo a soberana vontade do Pai. Pedi muito a Deus pela cura de minha mulher. Não foi um simples pedido; foi um clamor, um grito de desespero. Busquei a Deus até o último instante. Zélia agonizava em coma no hospital, já aqui em Fortaleza, e eu, aflito, percorrendo a cidade em busca de oração. Numa certa tarde, ao entrar no quarto do hospital, ela deu o último suspiro. Até hoje fico a meditar porque não fiquei com ela mais tempo, mais tempo… eu que com ela vivi 37 anos, 29 de casados e oito de namoro.
Deus levou para Si a minha mulher. O seu sofrimento serviu para que eu, ela e nossos filhos saíssemos das trevas para a luz. Deus sabia que somente algo muito forte poderia deslocar-me da situação de pecado em que me encontrava. É como se Deus tivesse dito: – Airton, basta! Doeu muito, sofri muito. Impossível contar muitas coisas que ocorreram durante a travessia. Muitas coisas que levarei para o túmulo. Mas valeu a pena.