Pais e Filhos

“Vós, pais, não irriteis a vossos filhos, para
que não percam o ânimo” (Cl 3.21).

A disciplina é necessária, porém a sabedoria está no equilíbrio. Nem oito nem oitenta. A disciplina branda ou nula é tão prejudicial quanto à rígida e excessiva.

Os médicos prescrevem a dose certa de remédio para cada tipo de enfermidade. Se a receita recomenda vinte gotas três vezes ao dia, se tomarmos cinco gotas não teremos os efeitos desejados. Se resolvermos tomar cinqüenta gotas de duas em duas horas, o remédio poderá se transformar em veneno.

O castigo disciplinar aplicado aos nossos filhos deve ser na medida certa, no momento certo, por justas razões. Disciplina rigorosa e excessiva poderá causar efeito contrário ao que se espera. Em vez de corrigir possíveis desvios de conduta, poderá causar uma situação de rebeldia incontrolável, não detectável a curto prazo.

A Bíblia recomenda que não devemos irritar nossos filhos. A punição física – surras, palmadas, beliscões, colocar de joelhos – pode e deve ser substituída por uma boa conversa. Todavia, palmadas suaves em crianças podem ser uma opção disciplinar viável. O problema surge quando as palmadas passam a ser o único de meio de “comunicação”, a única linguagem. Bater é mais fácil do que explicar. Os filhos não devem ver os pais como carrascos. Quando os filhos desejam permanecer mais tempo longe de seus pais, e assim se sentem bem melhor, alguma coisa está errada.

O excesso de proibições – não faça, não mexa, não brinque, não suba, não namore –, fora da dosagem certa e no tempo certo, é também prejudicial ao desenvolvimento da criança. Sabemos que elas desde cedo precisam conhecer seus limites: o que podem fazer e o que não podem. Assim, aprendem a reconhecer a autoridade dos pais. Mas estou falando aqui dos excessos.

Os filhos são preparados para caminhar com seus próprios passos; para tomar decisões e enfrentar adversidades. Os militares são treinados para situações de emergência. Sabem como sobreviver na selva. Nem sempre eles terão os instrutores ao lado. A selvageria do mundo espera nossos filhos. Daí a necessidade da formação moral na família. A família é a maior responsável por isso. Não é a Igreja; não são os professores. É na família onde os homens de caráter são formados. Matemática, Geografia, Física, Química, História e outras matérias eles aprendem nos bancos escolares. Porém, os bons costumes, a honestidade, a prática do bem são assimilados no meio familiar.

Voltemos ao “não irriteis aos vossos filhos, para que não percam o ânimo”. Irritar significa provocar, exasperar, aborrecer, importunar, impacientar. Em que irritamos nossos filhos? Nada mais irritante do que o castigo físico por faltas não intencionais. Exemplo: a criança, ao correr dentro de casa, bate na mesa e quebra o jarro. Não houve a intenção. Os pais também produzem prejuízos materiais sem que tenham a intenção de fazê-lo. As proibições desnecessárias são outra forma de importunar os filhos. Filhos irritados perdem o ânimo, diz a Bíblia. O excessivo rigor disciplinar pode produzir homens indecisos e desanimados. Regra geral, não existe liberdade de comunicação em famílias onde há excesso das normas disciplinares. Os filhos não têm liberdade de expressar suas idéias. Seus pais decidem e controlam tudo. Num ambiente assim, há cerceamento da liberdade para criar.

Para manter a disciplina e formar o caráter dos filhos, os pais não precisam transformar seus lares em penitenciárias, das quais os filhos pensam em fugir. E muitos fogem para a aventura das ruas. Numa situação menos extrema, filhos que estão sob intensa artilharia de uma disciplina rigorosa sonham com uma vida livre, longe da vigilância paterna. Recentemente, um pai não aceitou o namoro de sua filha de dezesseis anos. O resultado foi o que eu já esperava: fugiram.

Há pais que imaginam que seus filhos viverão para sempre com eles; que o cordão umbilical nunca será cortado. A respeito disso, os animais têm muito a nos ensinar. Desde cedo, ensinam os filhotes a procurar alimentos, para que possam ter vida adulta independente. Há filhos que, embora adultos e já casados, continuam carentes da assistência paterna. Não aprenderam a tomar decisões.

A instrução e a disciplina aplicadas aos filhos devem ser condizentes com a formação cristã. Eis os passos a serem dados pelos pais para levar os filhos a uma vida devotada a Cristo, conforme consta da Bíblia de Estudo Pentecostal:

a) Dediquem seus filhos a Deus no começo da vida deles (1 Sm 1.28; Lc 2.22).

b) Ensinem seus filhos a temer o Senhor e desviar-se do mal, a amar a justiça e a odiar a iniqüidade. Incutam neles a consciência da atitude de Deus para com o pecado e do seu julgamento contra ele.

c) Ensinem seus filhos a obedecer aos pais, mediante a disciplina bíblica com amor (Dt 8.5; Pb 3.11,12; 13.24; 23.13,14; 29.15; Hb 12.7).

d) Protejam seus filhos da influência pecaminosa, sabendo que Satanás procurará destruí-los espiritualmente mediante a atração ao mundo ou através de companheiros imorais (Pv 13.20; 28.7; 2.15-17).

e) Façam saber a seus filhos que Deus está sempre observando e avaliando aquilo que fazem, pensam e dizem (Sl 139.1-2).

f) Levem seus filhos bem cedo na vida à fé pessoal em Cristo, ao arrependimento e ao batismo em água (Mt 19.14).

g) Habituem seus filhos numa igreja espiritual, onde se fala a Palavra de Deus, se mantém os padrões de retidão e o Espírito Santo se manifesta. Ensinem seus filhos a observar o princípio: “Companheiro sou de todos os que te temem” (Sl 119.63).

h) Motivem seus filhos a permanecerem separados do mundo, a testemunhar e trabalhar para Deus (2 Co 6.14 – 7.1. Tg 4.4). Ensinem-lhes que são forasteiros e peregrinos neste mundo (Hb 11.13-16), que seu verdadeiro lar e cidadania estão no céu com Cristo (Fp 3.20; Cl 3.1-3).

i) Instruam-no sobre a importância do batismo no Espírito Santo (At 1.4,5, 8; 2, 4,39).

j) Ensinem a seus filhos que Deus os ama e tem um propósito específico para suas vidas (Lc 1.13-17; Rm 8.29,30; 1 Pe 1.3-9).

l) Instruam seus filhos diariamente nas Sagradas Escrituras, na conversação e no culto doméstico (Dt 4.9; 6.5,7; 1 Tm 4.6; 2 Tm 3.15).

m) Mediante o exemplo e conselhos, encorajem seus filhos a uma vida de oração (At 6.4; Rm 12.12; Ef 6.18; Tg 5.16).

n) Previnam seus filhos sobre suportar perseguições por amor à justiça (Mt 5.10-12). Eles devem saber que “todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições” (2 Tm 3.12).

o) Levem seus filhos diante de Deus em intercessão constante e fervorosa (Ef 6.18; Tg 5.16-18).

p) Tenham tanto amor e desvelo pelos filhos, que estejam dispostos a consumir suas vidas como sacrifício ao Senhor, para que se aprofundem na fé e se cumpra nas suas vidas a vontade do Senhor.
01.05.07

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