O Novo Papa e as Igrejas Evangélicas

Pensamento do Papa Joseph Ratzinger, arquiteto da declaração Dominus Iesus, com relação às Igrejas Evangélicas:

Artigo publicado em “O Estado de S.Paulo, 28.09.2000, com o título “Um retrocesso no ecumenismo religioso”, assinado pelo embaixador Antonio Amaral De Sampaio, diplomata aposentado. Alguns trechos:

“A declaração formulada recentemente pela Congregação da Doutrina da Fé, denominada Dominus Iesus, consagra surpreendente retrocesso na política da Igreja Católica com referência ao ecumenismo religioso, a qual havia registrado avanços durante o pontificado de João Paulo II. Situação esta que agora incorre no risco de ser comprometida, caso seja mesmo alçado a posição oficial do Vaticano o resultado das elucubrações orientadas e dirigidas pelo cardeal Joseph Ratzinger, o principal guardião da doutrina católica. O referido prelado é o tradicionalista prefeito da antiga Sagrada Congregação do Santo-Ofício, que, se hoje ostenta outra denominação, mais consentânea com a atualidade, ainda não logrou libertar-se do espírito do passado, que gerenciou a Inquisição, perseguiu heréticos e fez perecer na fogueira milhares de inocentes vítimas de superstições, da ignorância e maldade humanas, ou, mais simplesmente, apenas fiéis de outras confissões, algumas tão respeitáveis quanto aquela que tem sua sede política, administrativa e doutrinária em Roma.

Trechos da Dominus Iesus e rspectivos comentários:

Dominus Iesus: “Existe portanto uma única Igreja de Cristo, que subsiste na Igreja Católica, governada pelo Sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele. As Igrejas que, embora não estando em perfeita comunhão com a Igreja Católica, se mantêm unidas a esta por vínculos estreitíssimos, como são a sucessão apostólica e uma válida Eucaristia, são verdadeiras Igrejas particulares… Por isso, também nestas Igrejas está presente e actua a Igreja de Cristo, embora lhes falte a plena comunhão com a Igreja católica, enquanto não aceitam a doutrina católica do Primado que, por vontade de Deus, o Bispo de Roma objectivamente tem e exerce sobre toda a Igreja”.

Comentário: As demais igrejas possuem elementos de santificação, mas não plena, pois lhes falta o vínculo à Igreja-Mãe, diz a Declaração. Dizer que existem elementos de santificação e de verdade nas demais igrejas, deixa margem a dúvidas. É uma ambigüidade. O que significa mesmo possuir elementos de santificação e verdade e não ser Igreja de Cristo, não ser santa nem verdadeira? As igrejas que mantém estreitíssimos laços com a “Depositária da Verdade” podem usufruir das benesses da graça divina, porém derivada da graça revelada à Igreja de Roma. Os acatólicos, diz o Documento, não podem obter graça sem a intermediação da Igreja tronco, única e verdadeira.

Dominus Iesus: “As Comunidades eclesiais, invés, que não conservaram um válido episcopado e a genuína e íntegra substância do mistério eucarístico, não são Igrejas em sentido próprio. Os que, porém, foram baptizados nestas Comunidades estão pelo Baptismo incorporados em Cristo e, portanto, vivem numa certa comunhão, se bem que imperfeita, com a Igreja”.
“Os fiéis não podem, por conseguinte, imaginar a Igreja de Cristo como se fosse a soma — diferenciada e, de certo modo, também unitária — das Igrejas e Comunidades eclesiais; a Eucaristia e da plena comunhão na Igreja”.
“Daí a necessidade de manter unidas estas duas verdades: a real possibilidade de salvação em Cristo para todos os homens, e a necessidade da Igreja para essa salvação…”.

Comentários: Não somos igreja, mas podemos batizar, e os batizados são incorporados a Cristo, porém há necessidade de ingressarem na Igreja Católica para serem salvos. Mais ambigüidades. Somos ou não somos Corpo de Cristo. Somos ou não somos cristãos. Somos ou não somos filhos de Deus. A declaração mais estapafúrdia é a de que os homens precisam da Igreja Católica para salvação.

Dominus Isus: “Para aqueles que não são formal e visivelmente membros da Igreja, a salvação de Cristo torna-se acessível em virtude de uma graça que, embora dotada de uma misteriosa relação com a Igreja, todavia não os introduz formalmente nela, mas ilumina convenientemente a sua situação interior…”
“Seria obviamente contrário à fé católica considerar a Igreja como um caminho de salvação ao lado dos constituídos pelas outras religiões, como se estes fossem complementares à Igreja, ou até substancialmente equivalentes à mesma, embora convergindo com ela para o Reino escatológico de Deus”.

Comentários: Ecumenismo, para o catolicismo, representa incorporação, adesão. O Vaticano não entende que nenhuma igreja é caminho de salvação. O Caminho é Jesus. Aquele que nele crê será salvo, e passa a fazer parte da verdadeira Igreja de Cristo. Em todo o Documento está nítida a crença de que a Igreja Católica é o Caminho, e fora dela não há salvação. Ser batizado, participar dos Sacramentos e pertencer à Igreja-Mãe são condições que levariam à salvação. Nada mais contrário ao ensino das Sagradas Escrituras. O Corpo de Cristo é o somatório de todos os salvos em Cristo, vivos ou mortos, de todas as épocas.

Dominus Iesus: “Com efeito, algumas orações e ritos das outras religiões podem assumir um papel de preparação ao Evangelho… Não se lhes pode porém atribuir a origem divina nem a eficácia salvífica ex opere operato, própria dos sacramentos cristãos”.
“Se é verdade que os adeptos das outras religiões podem receber a graça divina, também é verdade que objectivamente se encontram numa situação gravemente deficitária, se comparada com a daqueles que na Igreja têm a plenitude dos meios de salvação”.

Comentários: As palavras do Vaticano se revelam aqui na plenitude de seu exclusivismo. Tudo agora ficou bem claro. Não há salvação para os que estão fora do catolicismo. A situação destes é grave e deficitária, pois só Roma tem a plenitude dos meios de salvação. Os protestantes têm o único e verdadeiro caminho de salvação: JESUS CRISTO.

Dominus Iesus: “A paridade, que é um pressuposto do diálogo, refere-se à igual dignidade pessoal das partes, não aos conteúdos doutrinais e muito menos a Jesus Cristo — que é o próprio Deus feito Homem — em relação com os fundadores das outras religiões”.

Comentários: O Documento esclarece que não pode haver igualdade no diálogo ecumênico. Os católicos poderão dele participar, mas cientes de que estão em nível mais elevado. Ora, a Igreja de Cristo representa a soma dos que nEle confiam e a Ele consagram suas vidas. Realmente não se pode falar em paridade em relação aos conteúdos doutrinais, pois a maioria dos dogmas da ICAR está em desacordo com a Bíblia Sagrada.

Comentários: “A Igreja, com efeito, movida pela caridade e pelo respeito da liberdade, deve empenhar-se, antes de mais, em anunciar a todos os homens a verdade, definitivamente revelada pelo Senhor, e em proclamar a necessidade da conversão a Jesus Cristo e da adesão à Igreja através do Baptismo e dos outros sacramentos, para participar de modo pleno na comunhão com Deus Pai, Filho e Espírito Santo”.
“Os Padres do Concílio Vaticano II, debruçando-se sobre o tema da verdadeira religião, afirmaram: « Acreditamos que esta única verdadeira religião se verifica na Igreja Católica e Apostólica…”.

Comentários: O Vaticano não pode falar em “respeito da liberdade”, nem do respeito às crenças dos não católicos sem antes fazer mea-culpa. Que primeiramente admita seus erros e o fato de que a Igreja Católica tem contribuído para cercear essa liberdade. O Documento deixa para o fim a declaração mais importante: somente mediante adesão ao catolicismo, mediante batismo e participação dos sacramentos o homem pode participar da plena comunhão com Deus. O que não é verdade: “Pois é pela graça que sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8-9). Para sermos recebidos como filhos de Deus, basta crer, confiar e obedecer: “Mas a todos os que o receberam, àqueles que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; filhos nascidos não do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (João 1.12,13).
Há apenas nove anos, no dia 29 de março de 1994, após exaustivo planejamento e cuidadoso exame, líderes católicos e evangélicos americanos assinaram uma declaração conjunta intitulada “Evangélicos e Católicos Unidos – A Missão Cristã no Terceiro Milênio”. Foi um evento significativo na história da cristandade. Dave Hunt, em “A Mulher Montada na Besta”, ressalta com propriedade que, apesar de a declaração coletiva ter levado em conta algumas diferenças básicas entre católicos e evangélicos, a mais importante não mereceu qualquer atenção, ou seja, o que significa ser cristão nas duas crenças.
Bastaria colocar em pauta o conceito de cristão para que não houvesse qualquer acordo. Como vimos nos pronunciamentos oficiais do catolicismo, cristão é o que está filiado à Igreja Católica. Basta preencher a ficha de inscrição, ser batizado e participar dos sacramentos. Agora, depois de quase uma década, o Vaticano declara que esses irmãos separados, signatários da Declaração, não são igreja no sentido próprio, e estão em situação de penúria diante de Deus. Ou seja, estão desgraçados, sem a graça divina. Diz Dave Hunt:

“O elemento-chave por trás dessa histórica declaração conjunta é a anteriormente inimaginável admissão, por parte dos líderes evangélicos, de que a participação ativa da Igreja católica faz de alguém um cristão. Se esse realmente é o caso, então a Reforma não passou de um erro trágico. Os milhões que foram martirizados (durante dez séculos antes da Reforma e até os dias de hoje) por rejeitar o catolicismo como um falso evangelho, terão morrido em vão. Se, contudo, os reformadores tinham razão, então este acordo entre católicos e evangélicos seria o golpe mais astuto e mortal contra o Evangelho de Cristo em toda a história da Igreja”.
“As diferenças teológicas entre católicos e protestantes já foram consideradas tão grandes, que milhões morreram como mártires para não comprometê-las, e seus executores católicos estavam igualmente convencidos da importância de tais diferenças. Como podem essas diferenças ter desaparecido? O que levou os líderes evangélicos a declarar que o evangelho do catolicismo, que os reformadores denunciaram como herético, agora tornou-se bíblico? Esse evangelho não mudou em nada. Será que a convicção foi comprometida a fim de criar uma imensa coalizão entre os conservadores por uma ação social e política”?

Alguns imaginaram que esse acordo marcaria um passo decisivo rumo a um entendimento e aceitação mútua. Enfim, a Igreja Católica iria aceitar os “hereges” como verdadeiros irmãos. Engano. Estavam longe de imaginar que anos mais tarde o Vaticano mostraria mais uma vez a sua face real.
Detectamos uma tremenda inversão de valores no trato de tais questões. Nós, que primamos pela verdade bíblica, e que vemos unicamente em Jesus a possibilidade de salvação, nós é que devemos refletir se podemos considerar como cristã uma religião que se desfigurou ao longo do tempo como cristianismo autêntico.
Pr Airton Costa

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *