Vejamos o que diz o texto:
“E darei poder às minhas duas testemunhas, e profetizarão por mil duzentos e sessenta dias, vestidas de saco. Estas são as duas oliveiras e os dois castiçais que estão diante do Deus da terra. Estes têm poder para fechar o céu, para que não chova, nos dias da sua profecia; e têm poder sobre as águas para convertê-las em sangue, e para ferir a terra com toda a sorte de pragas, todas quantas vezes quiserem” (Ap 11.3,4,6).
Comentários em O Novo Comentário da Bíblia:
“A PROFECIA DAS DUAS TESTEMUNHAS (Ap 11.3-14). Isto envolve princípios semelhantes aos vers. 1,2. As duas testemunhas originalmente foram Moisés e Elias. Para o aparecimento esperado deste último, antes da vinda do Messias, ver. Ml. 4.5. Era o pensamento de alguns que Moisés também tivesse sido trasladado ao céu e retornasse com Elias. Podia argumentar-se que João pretendia que a profecia fosse entendida literalmente; mas certas indicações no texto sugerem que a visão se refere à atividade missionária da Igreja toda. Diz que a besta fará guerra às duas testemunhas (7), uma frase curiosa em referência a dois indivíduos, mas aplica-se à Igreja em 13.7; homens do mundo inteiro presenciam suas formas martirizadas e se regozijam na sua subjugação (9), um pensamento impossível, se estavam em mente dois indivíduos em Jerusalém; e as testemunhas são representadas por castiçais (4), uma figura aplicada à Igreja no cap.1. A passagem, conseguintemente, ilustra o testemunho poderoso da Igreja na era sob revista, por meio de uma expectação judaica bem conhecida. O vers. 4 mostra por que há duas testemunhas, e não uma (Elias); João tem em mente a visão de Zacarias, das duas oliveiras, em pé de cada lado do castiçal de ouro (Zc 4). As duas oliveiras lá representavam talvez Josué e Zorobabel, o castiçal, Israel. João faz que o castiçal se torne em dois para o conformar com as duas oliveiras e declara que tanto as oliveiras como os castiçais significam a mesma coisa, a Igreja na sua capacidade profética. O castiçal já se virou em sete para representar as sete igrejas (1.12; 2.1); é uma fácil transição fazê-los tornar-se em dois para corresponder aos dois profetas, se bem que aqui a Igreja toda é tipificada pelos castiçais, não uma parte dela. Saco (3) é usado pelas testemunhas por causa do grave caráter de sua mensagem. O poder extraordinário da Igreja é exposto, nos vers. 5 e 6, em termos reminiscentes de Moisés e Elias. O fogo destruidor recorda II Reis 1.10; a capacidade para impedir chuva, I Reis 17.1; o transformar água em sangue e o ferir a terra com pragas, Êx 7.”
Comentários da Bíblia de Estudo Pentecostal:
“Ap 11.3 – Deus enviará duas testemunhas para pregar o evangelho e profetizar a respeito do futuro; terão grande poder sobrenatural (vv.5,6) e exercerão o seu ministério no poder do Espírito. Serão grande ameaça ao Anticristo e a todo o mundo ímpio durante um período de 1260 dias, e neutralizarão os sinais e maravilhas dos profetas da Besta (13.13,14). As duas testemunhas têm poder como Moisés e Elias (ver Ml 4.5). Ap 11.4 – OLIVEIRAS…CASTIÇAIS – Através desta linguagem, João está dizendo que as duas testemunhas receberão o poder do Espírito Santo para revelarem a luz, a verdade de Deus (Zc 4.2-140). Ap 11.7 – A BESTA… AS MATARÁ – As duas testemunhas são mortas porque apresentam a verdade do evangelho e bradam fielmente contra os pecados do povo. Jerusalém é, neste tempo, chamada “Sodoma” por causa da sua imoralidade, e “Egito” devido ao seu mundanismo (v.8). A besta é o anticristo (cf. 13.1; 14.9,11; 15.2; 16.2; 17.3,13; 19.20; 20.10) ou o “homem do pecado” (2 Ts 2.3-10). Note-se que as duas testemunhas não podiam ser mortas até completarem a sua obra. Assim é o caso de todos os servos de Deus que permanecem fiéis a Ele. CAIU GRANDE TEMOR – Ap 11.11 – Por causa da ressurreição das duas testemunhas (vv.11.12) e do julgamento divino (v.13), um remanescente em Israel aceitará a mensagem das duas testemunhas e dará floria a Deus (v.13)”.
Vimos dois comentários conflitantes. O primeiro diz que não se deve interpretar de forma literal as “duas testemunhas”, pois representam a “atividade missionária da Igreja toda”. O segundo informa que se trata realmente de duas testemunhas a serem enviadas por Deus. À parte dessas interpretações, há os que sustentam que as duas testemunhas serão Moisés e Elias, os únicos que não morreram. Sustentam, também, que as duas testemunhas farão exatamente o que fizeram Moisés e Elias – poder para converter água em sangue e fechar o céu para que não chova -, conforme está no verso 6, que seria uma clara alusão aos dois.
O argumento da trasladação de Moisés, como aconteceu com Elias, não é válido. Moisés morreu e foi sepultado: “Assim morreu Moisés, servo do Senhor, na terra de Moabe, conforme a palavra do Senhor. E o sepultou num vale, na terra de Moabe, em frente de Bete-Peor; e ninguém soube até hoje o lugar da sua sepultura” (Dt 34.5-6). O uso do verso 6 para validar a tese de que Moisés e Elias serão as duas testemunhas me parece pouco consistente. O texto diz que as duas testemunhas terão aqueles poderes (não chover e tornar água em sangue), mas não creio que isso seja suficiente para deduzirmos que esses dois, que fizeram uso dos mesmos poderes, serão os enviados. Nenhum outro mensageiro de Deus pode ter poderes semelhantes?
O Novo Comentário da Bíblia diz que a atividade missionária da Igreja está representada nas duas testemunhas do Apocalipse. Em outras palavras, estas não podem ter interpretação literal. Tal raciocínio nos leva a acreditar que o comentarista tenha se filiado à tese pós ou meso-tribulacionista. Embora entenda que a Igreja estará livre da ira futura, isto é, que ela será arrebatada ANTES da chegada do anticristo (1 Ts 1.10), não pretendo desviar-me do assunto das “duas testemunhas”. Todavia, considerado o arrebatamento ANTES, não há o que pensar em atividade da Igreja durante a Grande Tribulação. O comentarista estranha o fato de a besta guerrear contra as duas testemunhas. Por que não? Essa guerra não pode ser traduzida apenas como um exército de milhares de homens em marcha contra duas pessoas; pode-se entender como perseguições diversas, como estratégias de guerra não declarada. Na verdade, em razão de seus imensos poderes (v.5) elas serão invencíveis. Chegado o tempo devido, cumprida a missão, aceitarão o sacrifício (v.7). Se as duas testemunhas representam a Igreja, poderíamos dizer que todos os crentes serão mortos pela besta; que seus corpos ficarão “na praça da grande cidade”? Ora, milhões de corpos não caberiam numa praça. Essa Igreja sofredora iria passar sob a espada do anticristo? Dizer que elas simbolizam a “ação missionária da Igreja toda” me parece uma tese de muita subjetividade.
O comentarista não consegue entender como “homens de vários povos, e tribos, e línguas, e nações verão seu corpo morto [os corpos das duas testemunhas] por três dias e meio” (v.9). Ora, já nos dias atuais é possível ver através da televisão toda espécie de atrocidades que acontecem em Jerusalém ou em qualquer parte do mundo, em tempo real. Portanto, o mundo ímpio acompanhará ao vivo e em cores o feito heróico do anticristo e o aplaudirá. A alegria pela derrota dos dois profetas fará com que os homens troquem presentes (v.10). Mas será uma alegria efêmera; menos de quatro dias depois elas subirão ao céu numa nuvem (v.9,12).
O tempo mínimo de 1.260 dias em que as duas testemunhas profetizarão (11.3) advoga contra a tese de que elas simbolizam “a ação missionária da Igreja”. Ora, a Igreja missionária atua há mais de dois mil anos. Se não for arrebatada antes da tribulação, como pensam alguns, ela própria assumirá o seu papel de pregar o Evangelho durante aquele período crítico, não havendo necessidade de mais “duas testemunhas”. Todavia, é mínima a possibilidade de haver livre atuação da Igreja sob as vistas do anticristo.
A atuação das duas testemunhas durante a grande tribulação se faz necessária. Crianças que no início do período tinham sete anos, ao final estarão com catorze, em condições, portanto, de crer no Evangelho e serem salvas. Não somente as crianças, mas adultos também: “E vi as almas daqueles que foram degolados [os mártires] pelo testemunho de Jesus e pela palavra de Deus, e que não adoraram a besta nem a sua imagem [logo, viveram na grande tribulação], e não receberam o sinal na testa nem na mão” (Ap 20.4).
À vista do exposto, considero a interpretação literal mais consentânea com a realidade bíblica.
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13.12.2004
Pr Airton Costa