Minhas Malas de Dinheiro

A estrada era de piçarra, e os atoleiros, freqüentes. Para fazer o percurso, só com tração nas quatro rodas. Eram gastos oito horas para vencer os duzentos e sessenta quilômetros entre a cidade do interior e a Capital. Fiz várias viagens desse tipo, levando muito dinheiro.
A viagem mais difícil foi quando, em virtude de uma enchente, tive que passar sobre uma ponte improvisada. Com duas malas, uma em cada mão, percorri uns trinta metros, esforçando-me por manter o equilíbrio sobre os roliços troncos de palmeira.
Confesso que o dinheiro não era meu; estava a serviço; executava ordens. Naquele tempo, não havia qualquer tipo de investigação pelo caminho. Não havia assaltos à mão armada. Todavia, eu e meu companheiro de viagem portávamos revólveres calibre 38, com tambor cheio, dados pelo patrão.
Numa das vezes, um prego de pneu do velho jipe nos deixou várias horas num lugar deserto, para alegria dos pernilongos.
Portanto, as malas, de há muito, têm sido usadas não apenas para carregar roupas e objetos pessoais. São de múltiplas utilidades. Quando há urgência, ou quando há uma necessidade premente, servem para o transporte de dinheiro. E como servem.
Passados quarenta anos, revolvi fazer essa confissão de público. A quantidade de dinheiro voando de um lado para outro nos últimos dias, alguns de origem duvidosa, levou-me a considerar quão tranqüilas – apesar das adversidades da época – eram aquelas viagens dos anos 60, no Maranhão, a serviço do banco em que trabalhava. Tranqüilas porque não havia, nem há, qualquer problema de consciência, pois se tratava de uma remessa legal.
www.palavradaverdade.com
12.07.05
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