Leprosos e Escravos

São muitos os homens que conservam os valores morais acima de qualquer suspeita; que não alienam suas consciências, reputação e honra por algumas barras de ouro ou um punhado de moedas. A Bíblia apresenta vários exemplos. Um deles foi João Batista, “voz do que clama no deserto”. Renunciou às benesses da vida urbana para melhor compreender a degradação moral de sua época. Impetuoso, decidido e ousado no desempenho de sua missão, colocou sua vida em risco ao repreender duramente o rei Herodes: “Não te é lícito possuir a mulher do teu irmão”. Como resultado de uma trama palaciana, foi decapitado.
A Igreja não pode distanciar-se de sua missão de denunciar as mazelas da sociedade. Os homens de Deus não podem ficar como que acuados e claudicantes; pasmos, porém vacilantes. O Evangelho, e a conseqüente conversão dos pecadores, é a única força capaz de deter o avanço dos desvios morais. Não importa que preguemos para ouvidos moucos e corações petrificados. Importa que cumpramos nossa missão. Como disse o Apóstolo, o pregador há de saber pregar “por honra e por desonra, por infâmia e por boa fama”. Completa o Padre Antonio Vieira: “Pregar o pregador para ser afamado, isso é mundo; mas infamado, e pregar o que convém, ainda que seja como descrédito de sua fama, isso é ser pregador de Jesus Cristo; preguemos, e armemo-nos todos contra os pecados, as soberbas, os ódios, as ambições, as invejas, as cobiças, as sensualidades; veja o céu que ainda há na terra quem se põe da sua parte; saiba o inferno que ainda há na terra quem lhe faça guerra com a palavra de Deus”.
Compare esses princípios com os da pregação que se limita à prosperidade material e não levam as almas ao arrependimento e obediência irrestrita. Faça você mesmo a necessária reflexão.
Falar em ética, moral, honra e pecado nos dias atuais parece ser uma empreitada inglória. Parece, mas não é. Ainda que sejamos difamados, vale a pena continuar clamando com “voz de trovão” contra os pecados do nosso tempo; contra a delinqüência de homens públicos; contra o aborto, contra a prostituição, contra as diversas perversões sexuais e outras depravações.
Outra mente incorruptível foi o profeta Eliseu. Tão logo se viu livre de sua lepra, Naamã instou com o profeta para que recebesse um presente em ouro e prata, como símbolo de sua gratidão pela bênção alcançada. A oferta foi recusada. Eliseu era cidadão do reino da Luz; não vivia sob as expensas do Palácio Real e não alimentava qualquer ambição pelas riquezas deste mundo. O poderoso chefe do exército real da Síria não compreendeu. Certamente nunca vira comportamento tão estranho. Afinal, um amigo não pode dar um presente a outro amigo, sem que isso represente qualquer suborno? Mas o profeta foi seco e duro: “Recuso a sua oferta”. Preferiu continuar na sua austeridade e princípios.
Geazi, o servo de Eliseu, não tinha o mesmo pensamento. Ardeu o seu coração de cobiça quando viu seu senhor recusar oferta tão significativa. Como é que um homem pobre pode deixar de receber um presente valioso? O que é que tem? Nada a ver, dizem os geazistas de hoje. Não há nada de mal em uma igreja receber uma boa oferta de um candidato político! Afinal de contas ele está dando porque deseja! Os meios não interessam, dizem.
Quando soube que seu “moço” correra ao encontro de Naamã, e que recebera dele “dois talentos de prata e duas mudas de vestes”, o profeta o repreendeu duramente; ficou decepcionado e triste. Foi como receber uma facada no coração. O presente de Naamã, que ele rejeitara, retorna pelas mãos do seu auxiliar. Eliseu não ficou apenas lamentando a ocorrência. Sentenciou um castigo exemplar para seu servo: “Portanto, a lepra de Naamã se pegará a ti e à tua semente para sempre. Então, saiu de diante dele leproso, branco como a neve”.
O dinheiro sujo que transita das mãos dos corruptores para os corruptos contamina a consciência e a moral, avilta o caráter e a honra. Feita a primeira concessão, as demais fluem com facilidade e se transformam num rio caudaloso. Eliseu sabia disso há 2.500 a.C. Os corruptores conhecem muito bem essa estratégia infamante. Quando o homem vende sua consciência, está vendido para sempre; ainda que o preço ajustado seja de trinta moedas de prata, três mil ou um milhão de reais. Enquanto vida tiver, será escravo do senhor para o qual se vendeu. Como uma coleira espinhosa, símbolo de escravidão e subserviência carregará essa lepra por toda a sua vida.
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22.07.05

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