Homossexualismo Gera Polêmica em Igrejas Protestantes

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Reportagem do Site Elnet por Tiago Monteiro

Os últimos meses revelaram grandes surpresas para a Igreja do novo milênio. Talvez, a principal delas seria a ordenação de sacerdotes gays a conseqüente aceitação de homossexuais em algumas igrejas. Por conta disso, muitas denominações tiveram perdas, dentre elas, os anglicanos e os metodistas americanos. No Brasil, há uma pressão cada vez maior dos religiosos liberais para esta direção. No Rio de Janeiro e em outros estados, comunidades de “gays evangélicos” se organizam, ameaçando estruturas eclesiásticas e, principalmente, princípios bíblicos inalienáveis.

A comunidade religiosa homossexual teve sua grande vitória com Gene Robinson, o bispo anglicano homossexual de New Hampshire (EUA). A partir de longos debates e reuniões do Conselho Anglicano americano, ficou decidido que ele poderia estar atrás do púlpito como um representante de Deus.

Para a Conferência Nacional de Bispos dos Estados Unidos (USCCB), a decisão da igreja anglicana criou novas barreiras no diálogo ecumênico não só na própria denominação como também na Igreja Católica. “Implica em um rompimento do entendimento comum do sentido e propósito da sexualidade humana e da moralidade da atividade homossexual tal como descrevem a Sagrada Escritura e a tradição cristã”, disse Stephan Blaire, presidente do Comitê de Assuntos Ecumênicos da USCCB.

Os liberais anglicanos acreditam que a função episcopal não passa pela observação da conduta sexual dos vocacionados. A reverenda Carmen Etel, a primeira mulher ordenada pela Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, afirma que as opções pessoais não importam, desde que a formação teológica e seus “encaminhamentos pastorais” sejam preservados. Para ela, tomar uma postura “conservadora” perante o assunto seria usar a Bíblia para justificar ideais pessoais.

”A Bíblia foi escrita num contexto muito diferente da nossa cultura, religião, e sociedade. Hoje não podemos usá-la para justificar nossa teologia – ou liberal ou conservadora”, aponta Etel. A reverenda diz ainda que a Bíblia não foi feita “para oprimir o ser humano, ou castigá-lo”, mas “para ser luz à nossa caminhada de fé”.

Cresceu também nos Estados Unidos e se expandiu ao Brasil a Igreja da Comunidade Metropolitana. Localizada na Lapa, no Rio de Janeiro, ela se tornou o primeiro templo voltado para a comunidade gay do país. A ideologia de seus fiéis passa pela aceitação absoluta de Deus, independente de sua orientação sexual. O líder da Metropolitana no Rio é o carioca Marcos Gladstone, ex-membro de igreja evangélica.

Entrevista do site Elnet com o Bispo Robinson Cavalcanti

Combatendo as práticas homossexuais, como tantas outras ações antibíblicas, e preocupado com o crescimento da ideologia homossexual está o reverendo Edward Robinson Cavalcanti, da Diocese Anglicana de Recife. Seu posicionamento contrário à aceitação de homossexuais como membros de igreja rendeu uma “punição”: ele e a anglicana de Recife foram desligados da IEAB em carta assinada pelo bispo Primaz Orlando Santos de Oliveira.

ELNET: O que levou o Bispo Primaz da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Dom Orlando Santos de Oliveira, a querer puni-lo?

Bispo Robinson Cavalcanti*: A Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB) foi fundada (em 1890) e liderada (até 1949) por missionários norte-americanos de linha evangélica. Depois ela teve influência do anglo-catolicismo, do liberalismo moderno, e, agora do liberalismo pós-moderno, que nega toda possibilidade de verdade absoluta e objetiva, inclusive no campo doutrinário e ético. A Diocese Anglicana do Recife tem apenas 29 anos, e foi fundada por evangélicos e carismáticos, tem convicções parecidas com a antiga IEAB, e sempre teve tensões com a “nova” IEAB. Ex-membros de denominações evangélicas, homossexuais, bissexuais e liberais pós-modernos têm, nos últimos anos, se transferido para a IEAB, que, por sua vez, segue a orientação da Igreja Episcopal dos EUA, que lidera uma dissidência mundial na Comunhão Anglicana, defendendo a licitude das práticas homoeróticas, a ordenação de ministros gays e a bênção de uniões gays. O Bispo Orlando quer uma igreja anglicana no Brasil na linha norte-americana, e, para tanto, teria de “enquadrar” a Diocese Anglicana do Recife, começando pela destruição do seu Bispo.

ELNET: Em entrevista ao “Jornal da Palavra”, o senhor disse que 90% dos anglicanos e 32 clérigos compactuam com seus ideais. Isto quer dizer que, no Brasil, a maioria dos anglicanos discorda do homossexualismo na Igreja?

Bispo Robinson Cavalcanti: Eu me referi à Diocese Anglicana do Recife, onde as congregações que contêm 90% dos membros e 37 clérigos rejeitam as intervenções ilegais do Primaz e suas posições, mantendo-se em comunhão comigo, continuando a reconhecer-me como seu bispo. Ao nível mundial, da Comunhão Anglicana, mais de 80% dos bispos, reunidos, em 1998, na Conferência de Lambeth, afirmaram a incompatibilidade entre a prática homossexual e o ensino das Sagradas Escrituras. Daí a maioria das dioceses anglicanas, em todo o mundo, continuam a me reconhecer e a apoiar a nossa Diocese. No Brasil, porém, a denominação é dominada por bispos e outros líderes que, a partir do relativismo pós-moderno, defendem a licitude do homoerotismo.

ELNET: Em conversa com a Revda. Carmem Etel, da Diocese Sul-Ocidental, ela mostrou-se favorável a líderes homossexuais, e afirmou que a Bíblia precisa ter uma leitura mais contextualizada, livre de “fundamentalismos”. O que o Sr. Acha disso? A leitura bíblica deixa brechas para essa aceitação?

Bispo Robinson Cavalcanti: O Cristianismo se baseia em fundamentos, em doutrinas credais e confessionais mantidas pela Tradição ao longo dos séculos, como o “Consenso dos Fiéis”. Defender fundamentos não é ser “fundamentalista” (bitolado, fanático). Há lugar para contextualização na Bíblia, mas não naqueles aspectos claros, que tanto os judeus, quanto os cristãos afirmam por 5.000 anos. “E criou macho e fêmea” é uma cláusula pétrea da ética sexual bíblica. Dizer o contrário é negação ou heresia. Os homossexuais devem ser amados, mas levados à conversão e à novidade de vida (como todo os pecados) e não afirmar que estão certos e promover “Paradas de Orgulho” pelo pecado.

ELNET: Na sua posição, como os líderes deveriam lidar com os homossexuais que se acham no direito de estar em comunhão com a Igreja sem se expor em questões de discriminação?

Bispo Robinson Cavalcanti: Há uma diferença entre tentação e pecado, entre a inclinação e prática. Todas as pessoas, criaturas de Deus, possuem dignidade. Todos os cidadãos possuem direitos e deveres. E todos os pecadores devem ser amados e expostos à Palavra, para conversão e santificação. Os homossexuais não são mais pecadores do que os outros, mas, por outro lado, não são menos pecadores, ou não-pecadores. Devemos tratar a todos igualmente, com a Lei e a Graça.

ELNET: Para você, por que os evangélicos – dentre tantos outros setores da sociedade – são criticados pelo posicionamento contrário ao homossexualismo?

Bispo Robinson Cavalcanti: Vivemos em um mundo materialista prático, hedonista, individualista, relativista e consumista. Há muita falta de coragem e medo de martírio em se afirmar a Verdade, mesmo dentre os evangélicos. A “onda gay” é muito forte e muito organizada. As pessoas temem serem acusadas de “homofóbicas” ou de “ultrapassadas”. Quando a Igreja é fiel à Palavra de Deus ela sofre. Importa-nos, porém, e sempre, “antes obedecer a Deus que aos homens”.

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(*) D. Robinson Cavalcanti é bispo da Diocese Anglicana do Recife e autor de, entre outros, Cristianismo e Política — teoria bíblica e prática histórica e A Igreja, o País e o Mundo — desafios a uma fé engajada. www.dar.org.br

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