Faltam crentes como João Batista

Vivesse ele entre nós – e aqui não faço nenhuma associação com a antibíblica doutrina da reencarnação – certamente os políticos passariam por alguns vexames.

Para relembrar, João Batista foi aquele servo que se distanciou do sistema mundano e refugiou-se no deserto. Rejeitou até as iguarias comuns a todos os homens da época. Com intrepidez, ousadia e destemor combateu os males do seu tempo. À multidão que se apresentava para ser por ele batizada, dizia:

“Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir? Produzi frutos dignos de arrependimento. Já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo” (Lc 3.7-9).

Como precursor de Cristo, anunciou: “Eu, na verdade, batizo-vos com água, mas eis que vem aquele que é mais poderoso do que eu, a quem eu não sou digno de desatar a correia das suas sandálias; este vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Lc 3.16). Esse grande João Batista teve a audácia de repreender o rei Herodes, por causa de Herodias, mulher de seu irmão Filipe. Disse-lhe João: “Não te é lícito possuir a mulher de teu irmão” (Mc 6.18).

Apesar de destemido, “a voz que clama no deserto” deixou-nos um belo exemplo de humildade. Quando lhe informaram que Jesus estava batizando, em vez de sentir inveja, respondeu: É necessário que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3.30). Esse tipo de conduta é muito difícil nos dias atuais.

Fico a imaginar o que faria João Batista – se estivesse entre nós – ao tomar conhecimento das bruxarias realizadas nos porões do palácio presidencial, como ocorreu há alguns anos. É possível que subisse a rampa do palácio para um encontro pessoal com o presidente. Com o indicador em riste, talvez dissesse: “Não te é lícito usares a Casa do Povo para trabalhos de feitiçaria, contrariando a vontade de Deus. Arrependa-te de tuas feitiçarias, porque do contrário Deus passará teu cajado para outro”. É possível que sua prisão fosse decretada por desrespeito à autoridade, tal como nos tempos de Herodes. Mas o intrépido João não olhava para as circunstâncias. Sua vontade irremovível era dar testemunho da verdade. Não foi por menos que Jesus declarou o seguinte a seu respeito: “Entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João Batista” (Mt 11.11). Hoje em dia políticos há que mudam de parceira como mudam de camisa, e mesmo assim recebem o aval dos eleitores da comunidade cristã.

Fico a imaginar qual seria a reação desse homem ao ver a agressão que o Evangelho de Jesus vem sofrendo hoje em dia. Agressão, violência, mutilação. Será que ele ficaria apenas envergonhado, enojado, insatisfeito, de cara fechada? O que diria e o que faria ele ao ver, por exemplo, homens, mulheres e crianças tocando cornetas na Casa de Deus para que os muros de Jericó caiam? O que faria ele ao ver tantas ovelhas sofrendo violenta pressão psicológica para aumentarem mais e mais as ofertas para a Igreja?

João Batista iria incomodar muito. E não adiantaria falar em perseguições, em divisão do Corpo de Cristo, em “não toqueis em meus ungidos”. Talvez ele dissesse que o que mais divide o Corpo são as heresias, os modismos, as extravagâncias, a ganância, o outro Evangelho, que se apresentam com a marca da teologia da prosperidade.

Qual a resposta de João a um filho do evangelho do sucesso que lhe afirmasse: “Eu quero ser rico, ter carro importado, boa poupança, comer em bons restaurantes. Se não for assim, para que me serve ser cristão?” Eu não gostaria nem de estar perto para ouvir a repreensão daquele que deu a vida por causa da verdade.

Estão faltando crentes como João Batista!

(04.03.2004)
www.palavradaverdade.com

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