Em geral, os escritores bíblicos, especialmente os do AT, não se preocuparam em distinguir o espírito da alma ou vice-versa. A distinção hoje conhecida, é decorrente da Revelação progressiva de Deus no NT. Os textos de Nm 16:22 e Nm 27:16, nos informam que Deus é o Criador do espírito humano, e que Deus o fez de forma individual. Ele está na parte interior da natureza do homem, e é capaz de renovação e de desenvolvimento. O espírito é a sede da imagem de Deus no homem, imagem perdida com a queda, mas que pode ser restabelecida por Jesus Cristo (1Co 15:49; 2Co 3:18; Cl 3:10). O espírito é âmago e a fonte da vida humana, enquanto que a alma possui esta vida e lhe dá expressão por meio do corpo. Assim o espírito é a alma encarnada, ou um espírito humano que recebe expressão mediante o corpo. A alma sobrevive à morte, porque o espírito a dota de capacidade; por isso a alma e o espírito são inseparáveis. É o espírito humano que distingue o homem das demais coisas criadas. Por exemplo, os irracionais possuem vida comum (Gn 1:20), mas não possuem espírito como o homem tem. O espírito é o canal através do qual o homem pode conhecer a Deus e as coisas relativas ao seu domínio (1Co 2:11; 14:2; Ef 1:17; 4:23). Assim, quando o Espírito Santo de Deus Se torna residente no espírito do homem, torna-Se centro de adoração, de oração, cântico, bênção e serviço (Jo 4:23,24; Rm 1:9; 1Co 14:15; Fp 1:27). O espírito humano, representando a natureza suprema do homem, rege a qualidade de seu caráter. Por exemplo, se o homem permitir que o orgulho o domine, ele tem um “espírito altivo” (Pv 16:18). Conforme as influências respectivas que o dominem, o homem pode ter um espírito perverso (Is 19:14), rebelde (Sl 106:33), de escravidão (Rm 8:15), de inveja (Nm 5:14). Assim é que o homem deve guardar o seu espírito (Pv 3:23), dominar o seu espírito (Ez 18:31) e confiar em Deus para transformar o seu espírito (Ez 11:19). Quando as paixões más dominam a alma da pessoa, o espírito é destronado. Ou seja, o homem passa a ser vítima dos seu próprios maus sentimentos e apetites naturais. A este homem, a Bíblia chama de “carnal”. O espírito já NÃO domina mais, e essa condição é descrita na Bíblia como um estado de morte. É assim, que surge a necessidade de um “espírito novo” (Sl 51:10; Ez 18:31). Somente Deus, que originalmente deu vida ao homem, poderá soprar novamente na alma do homem, influindo nova vida espiritual nela. A este ato a Bíblia chama de “regeneração” (Jo 3:8; 20:22), assunto largamente analisado quando do estudo de Soterologia (a Doutrina da Salvação). Quando assim acontece, o espírito do homem novamente ocupa lugar de destaque em busca da perfeição estabelecida pelo Senhor Deus, e o homem chega a ser “espiritual”.
Fonte: dicionário Teológico Brasileiro Lázaro Soares de Assis