Ensino Religioso nas Escolas Públicas – Opiniões

As diversas opiniões sobre referido tema foram veiculadas no Grupo de Amigos do Pastor Airton Costa. Vejam:

De Elaine C. Castro

Estou me formando em Pedagogia e há 6 anos trabalho com crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 5ª ano (nova nomenclatura para a antiga pré-escola à 4ª série). Creio que posso te ajudar sobre o Ensino Religioso, assegurado como Disciplina nas Escolas de Rede Pública, pelo artigo 33 da atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB 9394 de 1996. Ele é melhor especificado pelos PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais, que são referências de qualidade para o Ensino Fundamental e Médio do país. Foram elaborados pelo Governo Federal.

O ensino religioso nas escolas deve, antes de tudo, fundamentar-se nos princípios da cidadania e do entendimento do outro. O conhecimento religioso não deve ser um aglomerado de conteúdos que visam evangelizar ou procurar seguidores de doutrinas, nem associado à imposição de dogmas, rituais ou orações, mas um caminho a mais para o saber sobre as sociedades humanas e sobre si mesmo. As religiões são corpos doutrinais de construção histórica, têm contextos vinculados à etnologia, história social, geografia, arte, política, economia etc… Conhecê-las e desvendá-las significa ampliar a rede de conhecimentos dos estudantes sobre o patrimônio cultural humano e, ao mesmo tempo, propiciar-lhes suporte emocional e social do ponto de vista do binômio: autoconhecimento / alteridade (aprender a ser / aprender a conviver).

Nesse sentido, as propostas de ensino religioso devem enfatizar o respeito pelo outro, o trabalho com aqueles que se encontram em situação de exclusão social, promovendo formas voluntárias e autônomas de participação e levando a um compromisso com as questões sociais e a uma possibilidade de intervenção: tais práticas são caminhos viáveis para a promoção da cidadania. Do mesmo modo, o compromisso com valores como honestidade, justiça, amor ao próximo, bondade e solidariedade devem ser incentivados. Estes valores ligados a uma ética que, específica para cada grupo social e religioso, apresenta elementos que podem ser vistos como universais, devem ser assumidos na organização dos temas.

Visto sob a perspectiva histórica, o ensino religioso pode promover o reconhecimento daquilo que diferencia grupos sociais e estilos de vida, sem quaisquer formas de discriminação ou hierarquização dos mesmos. Com o auxílio de outros campos de produção de conhecimento – história, antropologia, geografia, sociologia, literatura e arte, entre outros, pode-se combater o estranhamento tão freqüente em relação às práticas culturais diferentes, uma vez que a promoção deste conhecimento é condição determinante para o combate à ignorância e aos preconceitos dela resultantes. Dito por outras palavras, o ensino religioso, entendido como um dado da cultura e da identidade, é capaz de contribuir para uma visão mais filosófica da existência, presente em todas as formas de crença.

Tratada a partir de suas perspectivas antropológicas e históricas, as religiões podem promover, pelo conhecimento, o respeito e a valorização da identidade cultural. Assim, podem ser uma porta de acesso para outros valores e práticas culturais, identificáveis na arte de seus templos, nos cantos e nos rituais, nos textos sagrados (no caso das sociedades letradas), nas concepções de tempo que as orientam, nas permissões e proibições estabelecidas, entre tantas outras possibilidades. Para isto, seu estudo deve ter como premissa fundamental a idéia da tolerância para com a diversidade, sem que isto signifique a negação da própria crença ou o direito de apregoá-la. Pelo contrário, a tolerância implica ver o outro como um igual, cujo pensamento religioso, do mesmo modo, é um esforço por dotar a
vida de significados. Este é um aspecto fundamental quando se considera a história do Brasil.

Aqui se encontram desde as concepções animísticas dos indígenas, passando pela tradição cristã católica romana trazida pelos primeiros colonizadores, até os cultos afro-brasileiros ligados à existência da escravidão, bem como os diversos ramos do catolicismo e os diversos ramos do protestantismo, o judaísmo, o islamismo, o budismo e outras religiões orientais, todos eles conseqüência de séculos de movimentos migratórios internos e externos. Somente a ênfase nos aspectos culturais dessas religiões, nos grupos étnicos aos quais elas se relacionam e no diálogo entre diferentes culturas poderá garantir que o ensino religioso, de fato, leve a um convívio respeitoso entre os divergentes. Deste modo, também, ele estará não apenas atendendo às diretrizes estabelecidas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, particularmente no tocante aos chamados “temas transversais”, mas principalmente indicando um modo possível – e adequado – para o tratamento destes temas.

Isto posto, fica claro que o ensino religioso deve ser tratado como área de conhecimento em articulação com os demais aspectos da cidadania, como saúde, sexualidade, meio ambiente, trabalho, ciência e tecnologia, arte etc.
O ensino religioso, nesta concepção, articula-se substancialmente com os princípios legais vigentes, seja na proibição de qualquer tipo de proselitismo, seja na coerência com os princípios e fins da educação nacional que apregoa: liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas; respeito à liberdade e apreço à tolerância.

Nesse sentido, nunca é demais ressaltar a necessidade das escolas observarem, na formulação dos conteúdos e procedimentos didáticos, o respeito à pluralidade cultural e religiosa dos alunos, como já ressaltam os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais), e da não discriminação de minorias religiosas, assim como dos que não professem nenhum credo. É preciso, na organização dos temas a serem tratados, dar conta de uma escolha que abranja vários credos, cristãos ou não cristãos. Para concretização desta proposta, os PCNs recomendam a organização de atividades supra-confessionais, com projetos interdisciplinares que façam sentido para todos os alunos. Recomendam também o tratamento do ensino religioso como tema transversal, o que permitiria implementar a proposta de uma abordagem filosófica, com lugar para a reflexão sobre valores e princípios éticos e o conhecimento da história das religiões. Isso poderia trazer a possibilidade de um efetivo diálogo entre várias áreas do conhecimento, como língua portuguesa e literatura, história, geografia, artes etc, trazendo para a reflexão coletiva, de forma contextualizada, as religiões e suas práticas, percursos, crenças e experiências individuais.

Com base nas diretrizes expostas no item anterior, que propõe os conteúdos a serem desenvolvidos e a forma de tratá-los, os PCNs consideram que a habilitação e os profissionais adequados para conduzir este projeto sejam:
– de 1ª à 4ª série do ensino fundamental, os próprios professores das respectivas classes, tradicionalmente polivalentes, com competência para introduzir transversalmente em seus conteúdos os temas relativos ao conhecimento religioso, o respeito ao outro e os valores morais e éticos;

– de 5ª à 8ª séries, as aulas de ensino religioso poderão constar especificamente dos horários e ser atribuídas a professores que possuam habilitação em História, Filosofia e Ciências Sociais que, pela graduação que cursaram, devem ter formação para abordar os conteúdos da forma como foram propostos, ou seja, vinculados às demais áreas de conhecimento e em conformidade com o indicado pelos PCNs.
Matilde Tiemi Makiyama (Pedagoga-FEUSP), diz que “a sala de aula não pretende ser uma comunidade de fé, mas um espaço privilegiado de reflexão sobre limites e superações. Isto implica a necessidade de se construir uma pedagogia que favoreça tal perspectiva, porque o que objetivamos é fruto de uma experiência pessoal, na incansável busca de respostas par as questões existenciais. É preciso interpenetrar teoria e prática.

Nesse processo, a elaboração de uma linguagem simbólica favorece a descoberta e experiência dessa realidade, portanto, podemos considerar quanto aos aspectos essenciais que orientam a ação pedagógica do Ensino Religioso a pedagogia do limite, a linguagem simbólica, os livros sagrados, e a dimensão dos valores.

A prática vai se dar na ordem da linguagem simbólica, procurando desenvolver o educando na capacidade de decifrar a linguagem simbólica e na compreensão das experiências do transcendente.

Muitos – sem compreender sua dimensão específica – questionam: “para quê o Ensino Religioso se já temos a Ética como um dos Temas Transversais, com todo um conteúdo?”. A própria história do Ensino Religioso nos mostra que a Ética até há poucos foi o principal objeto do Ensino Religioso, quando não uma doutrinação religiosa. Nesta perspectiva, precisamos compreender com clareza de que ética se está falando.

“Toda religião comporta uma ética e toda ética desemboca numa religião, na mesma medida em que a ética se orienta pelo sentido do transcendente da vida humana” (Catão, p. 63). É necessário superar as errôneas e muitas vezes limitadas definições de ética e propor uma ética da consciência e da liberdade em lugar da ética da lei e da
obrigação. Na raiz da Ética, como contempla o Ensino Religioso, está a busca da Transcendência que dá sentido à vida, que proporciona a plena realização do ser humano pessoal e social.” (Disponível em http://www.hottopos.com/videtur4/o_ensino_religioso.htm).
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Do Pr. Vandir Allas:

Entendo ser interessante que nas escolas se ministre “temas como a vida em família, obediência aos pais, patriotismo, trabalho, exclusão social, igualdade, solidariedade, responsabilidade, amizade, compreensão, entre tantos outros, inclusive temas transversais como as drogas, trânsito e a educação sexual.”

Isto faz-me lembrar que a Escola pública já teve a função formativa. Hoje é apenas informativa. É bom que volte a formar.

Entendo, todavia, que a para a ministração destes temas não há necessidade – nem lógica alguma! – de abrigá-los sob o título “Ensino Religioso”, até porque muitos destes temas não frequentam os púlpitos, nem as EBDs.

Já houve nos currículos oficiais uma matéria chamada “Educação Moral e Cívica”, a qual, entendo eu enquadraria com mais propriedade todos os temas acima.

E, assim, eu reitero a minha palavra – uma matéria no currículo oficial chamada “Ensino Religioso” fere a nossa Constituição. E se esta, por mérito de “lobies” no Congresso permite tal atentado à laicidade do Estado, eu afirmo que atenta contra a liberdade religiosa, razão pela qual deve ser abominada pelos evangélicos.

E por falar em “lobies”, deve haver “dedo” da CNBB nesta história. Ah, se tem!
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De Elaine:

Quero observar que o que foi exposto abaixo em orientação ao irmão Manoel não é a defesa da pregação de uma religião em sala de aula por ocasião da permissiva do Estado em relação às ministrações de aulas de ensino religioso.

Exatamente porque não se deve haver discriminação em relação à diversidade cultural entre os seres (tanto a Bíblia quanto a escola ensinam isso), os Parâmetros Curriculares Nacionais estabelecem que o ensino religioso a ser ministrado volte-se à ética para a sobrevivência humana. Por isso mesmo, sugere temas como a vida em família, obediência aos pais, patriotismo, trabalho, exclusão social, igualdade, solidariedade, responsabilidade, amizade, compreensão, entre tantos outros, inclusive temas transversais como as drogas, trânsito e a educação sexual.

Os textos abaixo são estudos de pedagogos e referem-se exatamente ao que acabo de expor no parágrafo acima. Nada mais que isso. Creio que a dúvida do irmão Manoel é saber como é ministrado este ensino. Se a sala de aula está se tornando um centro para disseminação da fé de qualquer religião, o professor responsável está, então, fugindo do foco principal do Ensino Religioso que, segundo os PCNs, é contribuir para a auto-reflexão e crítica social dos indivíduos, a fim de educar pessoas sociáveis e humanas. Cabe a tais professores reverem seus conceitos. Pois a proposta não é “inserir no mesmo currículo as supostas vantagens do ateísmo, do materialismo, do satanismo” como o sr. disse. Pretende-se exatamente o contrário: valorizar o moral, o ético, a cidadania, o sentimental… que são extremamente necessários para a formação de um caráter disciplinado e reflexivo. É preciso ter
acesso aos livros de ensino religioso aprovados pelo MEC para este trabalho, para que se possa perceber essa proposta. É preciso também ter acesso aos PCNs. Certamente sua crítica será revista depois disso. Não sou eu que está sustentando esta tese. Ela partiu do próprio Estado, e sujeita qualquer infrator à penalizações previstas
em lei, exatamente porque respeita a liberdade religiosa.
Como professora / educadora que sou, entendo que, obviamente, a nós, evangélicos, cabe zelar para que a Verdade predita por Jesus Cristo não se manche. E em nenhum momento eu quis colocar o contrário nos escritos abaixo. Entendo que a Verdade de Deus baseia-se em princípios espirituais, os quais sempre procuro transmitir em sala de aula aos 80 alunos com os quais lido todos os dias letivos do ano. Certamente seja Deus verdadeiro e todo homem mentiroso. Suas verdades jamais serão refutadas.
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De Elizabeth Moraes:

Concordo com o Pr .Allas, quando ele argumenta que, os assuntos elencados pelos parâmetros curriculares (PCN)estejam sendo contemplados como ensino religioso, jamais o fosse e esclarece bem o assunto em debate.
Ora, a própria Constituição nos garante o direito à “liberdade”, mas muitas instituições religiosas impõem seus pontos de vista e os cidadãos desconhecedores dos seus direitos garantidos em lei aceitam e se contaminam com seus dogmas.

Diz assim o ECA (Estatuto da Crianças e adolescente), Capítulo II – Do Direito à liberdade, ao respeito e à dignidade, art 15 – A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.E no art.16 – O direito á liberdade compreende os seguintes aspectos, vou citar apenas o que diz respeito ao nosso debate: Inciso III – CRENÇA E CULTO RELIGIOSO.Ora, se o Estado é laico, porque incluir disciplina de “Ensino Religioso” nas escolas? O mesmo Estado que diz ser laico tira a liberdade garantida pela constituição às crianças e adolescentes de outros credos, não importando qual seja ele.

As escolas públicas e privadas em Fortaleza têm ensinado a esse público que a única religião aceita e reconhecida no Brasil é a católica apostólica romana, existem livros que essas escolas criam à parte que têm fotos e histórias dos papas, de imagens de santos, da catedral de Aparecida do Norte, do Padre Cícero, das Romarias do Juazeiro do Norte, Canindé e muitas outras aberrações. As lideranças das escolas dizem aos pais protestantes que todos os alunos ali matriculados professarão a fé católica e não reconhecem outras, lá os alunos têm um momento de oração do terço todos os dias em cada sala, e há imagens de santos espalhadas por todos os espaços das escolas .Aqui não estão ensinando assuntos do PCN, como aborda com muita propriedade, nossa irmã Elaine, antes fosse isso ensinado, mas não é.Aqui é puramente religião, terço, rezas, adoração aos santos.

Sou acadêmica de Direito numa faculdade católica aqui e no próprio manual do aluno está escrito: Aqui não se fala em outra religião que não seja a nossa, Católica Apostólica Romana. Os professores são todos católicos e defendem aborto, eutanásia, união homoafetiva, adoção por homoafetivos e de bíblia não entendem nada.Eu fico lá pregando o evangelho, seja para eles, para colegas, não interessa.Já disse para eles que eles têm religião e eu tenho “Jesus Cristo”, aquele que salva os religiosos e fariseus de plantão.E defendo o meu direito de liberdade ali.Faço o mesmo nas escolas que impoêm os pais de igrejas protestantes aqui, faço valer sim a lei e o evangelho.

Nós evangélicos precisamos estar alertas sim, porque satanás usa de muitas sutilezas na área de educação para seduzir inclusive o que já conhecem a Cristo. Defendo sim estudo de Moral e Cívica, Ética nas escolas públicas, municipais e privadas incluindo o assunto que estabelece o PCN já citado no texto da Ir.Elaine, mas ensino religioso jamais.
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De Norma Braga:

Permita-me discordar do Pr. Allas em uma direção um pouco diferente da profa. Elaine e tecer algumas considerações sobre o assunto.

O cristianismo não é apenas mais uma religião que se possa colocar em pé de igualdade com o ateísmo ou o satanismo para “que todos fiquem felizes e se sintam igualmente representados”. Ele é um dos fundamentos da nossa sociedade, chamada “judaico-cristã”. Ensinar o cristianismo nas escolas está intimamente associado a explicitar as bases da nossa civilização ocidental em várias áreas, como história, direito, o modo de pensar do ocidental hoje. É por causa do cristianismo que temos como regra moral “amar os nossos inimigos”, por exemplo, algo inexistente até hoje em sociedades tribais de fundo islâmico. Um ensino do cristianismo que não se pautasse apenas na questão religiosa e que fosse além poderia fornecer as bases para que as crianças e jovens ao menos respeitassem a crença que ajudou a fundar a sociedade em que vivem – e talvez um antídoto para a dose maciça de anticristianismo, esquerdismo, anti-ocidentalismo que eles fatalmente irão receber da mesma escola e das universidades.

Mas a igreja evangélica sequer entende a importância dessas coisas e sequer percebe o anticristianismo militante no meio educacional. Em vez disso, dá as mesmas razões para o ensino religioso que as instâncias seculares. Se não soubermos salientar a importância do cristianismo da graça comum – ou seja, o que significou a vinda de Cristo para a humanidade como um todo, não só para a comunidade de convertidos -, não saberemos falar adequadamente nos ambientes seculares. Isso não é universalismo (a salvação é para os que crêem), mas uma compreensão mais profunda da graça comum, que atinge a todos. Se cairmos no conto do multiculturalismo e não soubermos defender que o judaico-cristianismo teve muito mais impacto positivo e está muito mais presente na fundação da nossa civilização que qualquer outra religião ou visão de mundo – ateísmo, satanismo, “religiões afro” etc. – , será praticamente impossível ensinar religião de modo consistente. Isso, até um conservador não-convertido sabe; mas os evangélicos brasileiros têm acesso aos esquerdistas relativistas e multiculturalistas sem saber contestá-los, e é por isso que o anticristianismo na educação tem contado com muito poucos oponentes. Uma situação muito triste, sem dúvida.

Por isso, vale a pena frisar: sem a compreensão das estratégias desse anticristianismo na educação – que é sempre esquerdista, multiculturalista, relativista – e sem a compreensão geralmente conservadora daquilo que Deus fez não só aos salvos, mas à humanidade, através da vinda de Jesus, ficará praticamente impossível o professor cristão realmente fazer diferença em uma aula de Estudos Religiosos e destacar-se da multidão de vozes seculares. Para isso, o professor deverá se esforçar para não fazer o que quererão dele nas escolas: mostrar um pinguinho de moralidade pragmática associada não ao cristianismo, mas às religiões como um todo, e deixar todos felizes com a idéia de que é preciso ter fé, não importa em quê. Ele não precisa pregar em sala, mas a simples noção de que o cristianismo fundou as bases de nossa sociedade e mudou a história da humanidade como nenhuma outra religião – essa simples noção é poderosa para fazer todo o resto. É isso que o demônio quer apagar das mentes quando, pela boca de ateus e esquerdistas, reduz o cristianismo à Inquisição e à intolerância. O professor deve estar preparado para mostrar a injustiça dessas menções, e isso só é possível quando se vai a outras fontes e outros autores que não os geralmente recomendados nas universidades brasileiras.

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Do Pr. Vandir Allas:

O nosso Estado, graças a Deus, é laico. E assim todos queremos que continue, pois isto significa liberdade de confissão e prática religiosa.

Tal liberdade permite que haja entre nós, cidadãos brasileiros, pagadores de impostos, cumpridores de seus deveres, muitas pessoas que são atéias, etc.

O ensino religioso, se considerado como abaixo exposto pela Irmã Elaine, deve figurar com matéria de currículo obrigatório para todos alunos. Mas como obrigar o filho de um ateu a freqüentar tais aulas?

Uma forma de respeitar a isonomia e a laicidade seria inserir no mesmo currículo as supostas vantagens do ateísmo, do materialismo, do satanismo, etc., o que certamente seria rejeitado pelos educadores e autoridades do ensino público.

Considero as alegações abaixo um engodo, uma maquiagem. Estado é Estado. Religião é religião. Igreja é Igreja. Não se misturam. A mistura é um perigoso precedente.

A educação fundamental pública é sustentada com o imposto pago por todos os cidadãos, inclusive pelo ateu, pelo satanista, etc. Não é justo, nem é constitucional usar o dinheiro público para ensinar sobre religião.

Entendo que, como evangélicos, devemos lutar pela preservação da liberdade religiosa. E para tanto, não devemos ocupar o espaço aberto para evangelizar no ensino público, nem devemos apoiar o ensino de religião como postado abaixo. Antes, devemos denunciá-los. A liberdade religiosa, a laicidade do Estado, são um tesouro inestimável que temos no Brasil, mas que muitos países ainda não conseguiram. Preservêmo-la.
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Do Pr. Vandir Allas:

Se o Judaísmo e o Cristianismo foram importantes na formação de nossa civilização – e foram! – isto deve ser reconhecido e informado em matérias próprias – História, Filosofia, Sociologia, etc.

Querer se prevalecer deste fato para ensiná-los na Escola pública em matéria específica e, pior ainda, com salário pago pelo governo, que é sustentado pelo impostos pagos por todos contribuintes, cristãos e não cristãos, religiosos e arreligiosos, não passa de esperteza, de oportunismo, de se prevalecer de ser maioria e de ser pioneiro, violando o princípio da isonomia e da liberdade religiosas.

E ainda a ouço dizer que defender a igualdade e a liberdade religiosas é uma atitude de “anti-cristianismo na educação”.

Ora, Amada Irmã Norma, a educação pública, atribuição do Estado, não deve ser nem cristã, nem anti-cristã. É laica.

Se estivéssemos no Islã, certamente, eu estaria ouvindo os mesmíssimos argumentos – que o Islã foi fundamental na formação da sociedade, que o Corão é fundamental na educação das crianças, etc., e que por isto as escolas, públicas e até privadas, dos países árabes devem manter a cadeira de religião – leia-se “islamismo”.

Veja o que Senhora diz: “Ensinar o cristianismo nas escolas está intimamente associado a explicitar as bases da nossa civilização ocidental em várias áreas, como história, direito, o modo de pensar do ocidental hoje…”.

Mas no Islã os “hisbollah”, os “ayatollah”, etc., certamente dizem algo similar: “Ensinar o islamismo nas escolas está intimamente associado a explicitar as bases da nossa civilização oriental em várias áreas, como história, direito, o modo de pensar do oriental hoje.”.

E ai dos pais não muçulmanos que ousarem contestar.

Exatamente, o mesmo se diz na China, em Cuba, na Coréia do Norte, etc., acerca do comunismo ateísta.

Deploro o oportunismo desprezível do prevalecimento da força, da maioria da população, dos lobies no congresso, etc., que envergonham o verdadeiro cristianismo.

Eu ainda prefiro a laicidade do Estado, a separação total “Igreja X Estado”, a liberdade, a igualdade, a justiça, chame a isto a Irmã de “anticristianismo na escolas”, “anticristianismo militante”, etc.

Nós, evangélicos brasileiros, enviamos e sustentamos missionários para países onde não há liberdade religiosa, onde as escolas oficiais são confessionais, etc. As missões “Voz dos Mártires” e “Portas Abertas” nos mandam desesperados relatos e apelos. Portas são fechadas. Pastores são presos, torturados, mortos. Somos desafiados a interceder, etc.

Entretanto, aqui, no Brasil, onde há absoluta liberdade religiosa, nós os evangélicos, que nestes dois milênios tantos sofremos perseguições, inquisições, mortes, etc., paradoxalmente, usamos a nossa história, o nosso passado, a nossa formação, para nos prevalecermos.

Dizer o quê desta postura? “Pimenta nos olhos alheios…”? “O que os olhos não vêem…”?

Sou membro de uma Igreja, em cuja história ocorreu, em toda a história da humanidade, o primeiro momento e experiência de absoluta liberdade religiosa. Foi na comunidade de Providence, Rhode Island, EUA, fundada por um perseguido por evangélicos, um batista, Roger Willians, sede da Primeira Igreja Batista da América.

Eu abomino e declaro anátema o expediente, infelizmente defendido por cristãos evangélicos, do uso, indevido, injusto, oportunista e inescrupuloso, da escola pública para ensinar e valorizar a religião. Trata-se de um seríssimo e precedente atentado à liberdade religiosa e de pensamento.
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De Norma Braga:

Pr. Allas, eu falo de uma perspectiva conservadora e não da perspectiva dos “poderosos” – pobre de mim. Se o senhor não percebe que há um anticristianismo militante na mídia e na educação, há muito pouco que eu possa dizer para convencer o senhor. Não estamos no Islã e, queiramos ou não, o cristianismo está na base de nossa sociedade. Ensiná-lo em pé de igualdade com o budismo e qualquer outra tendência religiosa é cair no engodo dos multiculturalistas – eles sim, sustentados por milionários de esquerda em todo o mundo.

Não há no Brasil inteiro nenhum poderoso cristão e nenhum lobby cristão como o descrito pelo senhor. Há apenas os corruptos de sempre, evangélicos ou não. Se há um lobby cristão, é inexpressivo, e eu não conheço. De qualquer modo, espanta-me a maior desconfiança do senhor em relação a cristãos que em relação ao mundo.

Espanta-me sobretudo chamar de “uso injusto e inescrupuloso” o ensino (não a pregação!) do cristianismo como base histórica e moral de nossa civilização em sala de aula. Decerto o senhor não usa os mesmos adjetivos para o professor de história que só fala de cristianismo para abordar a inquisição, exalta Lênin, Che Guevara ou Fidel Castro escondendo os males do comunismo aos alunos brasileiros, ou pior, que faz propaganda aberta do PT nas mesmas salas de aulas de escolas públicas. O que a esquerda faz é vergonhoso, e isso em quase todas as matérias. Mas o senhor prefere se preocupar e atacar gatos pingados que desejam expor um pouco do cristianismo por seu lado civilizatório em ensino de religião – um tipo de visão que, aliás, creio não existir no ensino brasileiro. Realmente, difícil entender esses critérios.

Lamento muito que os cristãos estejam colaborando, ainda que inconscientemente e de boa-fé, com a agenda politicamente correta de todo o mundo. Essa agenda odeia o cristianismo e fará de tudo para erradicá-lo do planeta.
Não voltarei a esse debate, pois me parece mesmo a contraposição de duas visões de mundo ancoradas em perspectivas totalmente diferentes.

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