A Inquisição das Testemunhas de Jeová

QUEM JÁ LEU o livro “Crise de Consciência”, de Raymond Franz, deve ter ficado perplexo diante das graves denúncias. O autor serviu por quase quarenta anos à Sociedade Torre de Vigia (STV), nove anos dos quais como membro efetivo do Corpo Governante, o cérebro do grupo. Suas denúncias são, portanto, merecedoras da maior credibilidade. Ele fala com a autoridade de quem viu e ouviu, e, além disso, apresenta fatos e documentos incontestáveis. Leiam o que diz:
“Em fins de 1979, eu tinha chegado a minha encruzilhada pessoal. Tinha passado quase quarenta anos como representante por tempo integral, servindo em cada nível da estrutura organizacional. Os últimos quinze anos, eu os passei na sede internacional e, desses, os nove finais como membro do Corpo Governante mundial das Testemunhas de Jeová” (1).
Franz, por várias vezes, descreve a falta de misericórdia por parte do Corpo Governante, e faz um paralelo entre os métodos da Inquisição romana e os utilizados pela organização, excluindo, é claro, a tortura, prisão e morte na fogueira:
“O modo de agir é típico, entretanto, de muitas organizações religiosas do passado, remontando até o primeiro século, organizações que sentiam uma necessidade compulsiva de eliminar qualquer coisa que, na visão deles, ameaçasse diminuir sua autoridade sobre os outros”. “Em seu livro, A History of Cristianity (Uma História do Cristianismo), Paul Johnson escreve acerca dos métodos empregados durante o período obscuro de intolerância religiosa que produziu a Inquisição, e diz: Sendo difíceis de obter as provas de culpa por crimes de opinião, a Inquisição recorria a procedimentos proibidos em outros tribunais…”.
“Os métodos”, continua Franz, “empregados regularmente pelas comissões judicativas compostas de anciãos seriam considerados indignos dos sistemas judiciários de qualquer país esclarecido. A mesma prática de ocultar informações criticamente importantes (como os nomes das testemunhas hostis), como também de usar informantes anônimos e táticas similares, descritas pelo historiador Johnson como empregadas na Inquisição, têm sido usadas com grande freqüência por estes homens ao lidarem com os que estão totalmente de acordo com o “canal”, com “a organização”. O que se dava então de fato, na história, é verdadeiro hoje na vasta maioria dos casos, conforme o expressa Johnson: `O objetivo era, simplesmente, arrancar confissões de culpa a qualquer custo; somente dessa maneira, pensava-se, a heresia poderia ser contida´.
As revelações contidas nesse livro de 514 páginas soam como uma advertência aos milhões de membros da Sociedade, à qual Franz serviu por tantos anos. Pois, como ele afirma, “a vasta maioria das Testemunhas de Jeová simplesmente não tem consciência das realidades envolvendo a estrutura do poder. Diz Franz: “Pela minha longa experiência entre elas, em muitos países, sei que, para uma grande percentagem, a organização tem certa “aura”, como se houvesse uma radiação luminosa em torno dela… Os ensinos se revestem de uma qualidade esotérica, tendo “esotérico” a ver com “aquilo que se destina aos especialmente iniciados e que só eles podem entender. A maioria das Testemunhas supõe que as sessões do Corpo Governante são conduzidas em alto nível, manifestando um conhecimento bíblico e sabedoria espiritual fora do comum”. (2)
Mas não podia ser diferente. Os membros são bombardeados de modo incessante com uma enxurrada de interpretações da Bíblia, e orientados a confiar cegamente na “única organização na terra que compreende as coisas profundas de Deus”. Por confiar cegamente, muitos ficaram desiludidos com as falsas profecias que apontavam o fim de todas as coisas para a geração de 1914 (já passou e nada aconteceu), depois para 1918, 1920, 1925 e 1975. A proibição de vacina, do serviço alternativo e da transfusão de sangue, para ficarmos só nesses exemplos, são ações que refletem o grau de autoritarismo desse organismo religioso. Registra o autor que “milhares de Testemunhas, principalmente jovens, passaram temporadas na prisão por se recusarem a aceitar designações para executar diversas formas de serviço comunitário como alternativa ao serviço militar”, opção válida em alguns países. Impossível calcular os prejuízos morais e financeiros, traumas familiares e vidas perdidas. Essas coisas continuam: “Relatório da Anistia Internacional declarou que, na França, `mais de 500 objetores de consciência ao serviço militar, a vasta maioria deles Testemunhas de Jeová estiveram presos durante o ano”. (3) Na Itália, 500 foram aprisionados por idêntico motivo. Tudo isso para servir a uma organização religiosa, e não a Deus.
“Uma Testemunha de Jeová jamais pára para pensar que a maioria dessas religiões [as demais que consideram falsas, principalmente as cristãs] nunca matou em tempos de paz ou mesmo gerou óbitos desnecessários, como os que foram causados pela proibição de vacinas (na década de 20) ou pela política contraditória de frações do sangue que têm sido liberadas e proibidas ao longo da história da organização das Testemunhas de Jeová; nem pela proibição de transfusões de sangue, transplantes de órgãos (1968 a 1980), serviço civil alternativo (até 1995), ou que muitas delas nunca mancharam sua história com especulações proféticas que contrariavam textos como o de Deuteronômio 18.22, Jeremias 23.21, Atos 1.7, etc.”(4).

Métodos inquisitoriais de investigação

O autor nos revela que os membros temem os processos de desassociação (exclusão da sociedade). Os excomungados, que são considerados “apóstatas, “anticristos” e “instrumentos de Satanás”, passam a ser rejeitados até por seus familiares. Nenhuma Testemunha pode ter qualquer tipo de contato com eles. Discordar de qualquer ensino da organização, ainda que arbitrário e antibíblico, é motivo bastante para a excomunhão. Os suspeitos são “postos perante um pequeno grupo de três ou cinco homens (uma “comissão judicativa”) em reuniões secretas”, mas não podem testemunhar a discussão. Depois de lida a sentença condenatória, nenhuma Testemunha pode falar com os desassociados, o que elimina a possibilidade de as vítimas darem explicações a amigos e irmãos da própria organização. Todos os processos estão arquivados no Departamento de Serviço em Brooklyn e não podem ser destruídos. É bom mesmo que não sejam destruídos.
As Testemunhas não podem sequer cumprimentar um “apóstata”. Leiam a palavra oficial: “E todos sabemos de experiência no decorrer dos anos que um simples “Oi” dito a alguém pode ser o primeiro passo para uma conversa ou mesmo para amizade. Queremos dar este primeiro passo com alguém desassociado?” (5).
Na verdade, o Corpo Governante tem medo de que a verdade bíblica que contagiou o “apóstata” possa incendiar os corações dos que deles se aproximem. A intolerância, aliada à segregação, é uma das características das seitas. Os membros não devem ouvir nem ler qualquer norma que não seja ditada diretamente pela organização. É-lhes privado o direito de ler a Bíblia e interpretá-la sem a intervenção do “canal” de Deus. Ora, apostatar da fé significa abandonar a fé cristã, abandonar as verdades bíblicas, abandonar o ensino de Jesus, nosso Senhor e Salvador. Desligar-se de uma organização, que por sua vez já é considerada apóstata, não se configura apostasia. Na Primeira Carta aos Coríntios, capítulo 5, verso 11 – usada pela organização para abrir processo inquisitório -, Paulo adverte para que não haja associação com irmãos “devassos”, “avarentos”, “idólatras”, “maldizentes”, “beberrão” ou “roubador”, e os trata como “iníquos” (v.13). Não se podem achar essas más qualidades em pessoas que simplesmente discordam de sua liderança religiosa.
Ruptura familiar
“Creio – diz Franz – que o desligamento da afeição de alguém, com a aparente facilidade com que se desliga um interruptor de luz é também um produto da doutrinação da organização, não algo normal nos sentimentos naturais da maioria das pessoas”. (6) Ele está dizendo que o Corpo Governante é frio, calculista, sem misericórdia, sem amor ao próximo, legalista e autoritário. À página 41 do mesmo livro há um testemunho comovente de uma mãe, na Pensilvânia:
“Tenho filhos na organização que são casados e que, por ocasião de minha dissociação, até me ofereciam para que eu viesse à casa deles para descansar… Posteriormente, quando saiu a informação [em A Sentinela de 15.12.1981, que apresentava instruções detalhadas quanto à associação com quem quer que tivesse, até então, se dissociado], tendo sido evitada por eles desde então e não querem mais falar comigo por telefone ou por qualquer outro meio. Tenho que fazer alguma coisa quanto a isso, mas não sei o quê… Estive hospitalizada durante este tempo devido a um esgotamento emocional e sofri uma crise adicional, tudo dentro de um curto espaço de tempo… Não sei como vou suportar a perda de meus filhos (e futuros netos). A perda é monumental”.
O Corpo Governante ensina a desagregação familiar; pais podem ficar contra filhos e filhos contra pais e irmão contra irmão, tudo para preservar os altos interesses da organização, que não pode contar com a direção do Espírito Santo, em quem não acredita. Jesus agiu completamente diferente. Ele foi ao encontro dos pecadores.
O mais cruel e desumano ato dessa organização é o que proíbe seus membros de visitar pais, parentes e amigos, ainda que seja para cumprimentá-los, quando estes se desligam da STV. Embora sintam em seus corações o desejo de chorar com a família a morte de um ente querido, não podem. Com isso, o Corpo Governante ensina a ruptura familiar, o desamor; a separação de casais, ódio entre pessoas que deveriam estar unidos por laços fraternais ainda que um ou outro professe religião diferente. Não importa qual seja a religião de minha mãe; não importa qual tenha sido o motivo pela qual ela tenha deixado de ser Testemunha de Jeová; importa saber que ela é a minha mãe e que estou unido a ela por laços indestrutíveis. É assim que as mães fazem com relação aos filhos com desvios de conduta. O filho pode não ter nenhuma virtude; ser viciado, ladrão, assassino; pode ser preso como traficante… Mas a sua mãe jamais o abandona. Ele pode ser tudo no mundo, mas é o seu filho amado. Não sei como os membros do Corpo Governante conseguem dormir tranqüilos sabendo que inúmeras famílias (pai, mãe, sobrinhos, netos) estão neste momento chorando a “perda” de um parente. É como se o parente estivesse morto. Isso mesmo. São mortos-vivos cujo único entretenimento saudável é trabalhar e trabalhar para uma sociedade.
Jesus afirmou que veio trazer divisão no meio familiar, mas essa divisão no Cristianismo consiste em que a família nem sempre aceita a opção cristã de um de seus membros. O novo cristão convertido, todavia, passa a amar mais ainda pais e irmãos, agora que tem a mente de Cristo e o amor de Deus. O pai, da parábola do filho pródigo, aguardava com ansiedade a volta do filho. Jesus tomou a iniciativa de aproximar-se de Zaqueu, um cobrador de impostos odiado por muita gente.
“Como na Inquisição”, diz Raymond Franz, “todos os direitos estavam nas mãos dos inquisidores, os acusados não tinha nenhum. Os investigadores achavam que tinham o direito de fazer qualquer pergunta e, ao mesmo tempo, de recusar-se a responder às perguntas que lhes eram formuladas. Insistiam em manter seus procedimentos judicativos em segredo, completamente longe da vista de qualquer outra pessoa e, no entanto, reivindicavam o direito de investigar as conversas particulares e as atividades daqueles a quem interrogavam… Eles procuraram encurralá-lo [René Vázquez, um excomungado] em seus sentimentos mais íntimos, em suas crenças pessoais”. Tal como acontecia nos tribunais da Inquisição, as perguntas se sucediam para forçar uma contradição. Conclui René: “Que razão justifica a maneira sutil e maliciosa com a qual as perguntas foram feitas? As audiências foram realizadas como se tivessem o objetivo de juntar informações que provassem a culpa, não o de ajudar a um irmão `em erro´”. (7)
Os oitos pontos da “Confissão de Fé”, com base na qual a organização se livra dos “apóstatas”, são todos antibíblicos. Vejam o relato de Franz, o mesmo que, antes de conhecer a Verdade, ensinou e creu em tais ensinos. Onde está escrito nas Bíblia:
Que Deus tem uma organização na terra, uma do tipo em questão?
Que a esperança celestial não está disponível a toda e qualquer pessoa que a adote, que ela foi substituída por uma esperança terrena (desde 1935) e que as palavras de Cristo com relação ao pão e vinho emblemáticos, “Fazei isto em memória de mim”, não se aplicam a todas as pessoas que depositam fé em seu sacrifício resgatador?
Que o “escravo fiel e discreto” é uma “classe” composta só de certos cristãos, que não pode ser aplicado a indivíduos, e que esta opera através de um Corpo Governante?
Que os cristãos estão divididos em duas classes, com uma relação diferente com Deus e Cristo, com base num destino terreno ou celestial?
Que os 144.000 em Revelação devem ser entendidos como um número literal e que a “grande multidão” não se refere, nem pode se referir, a pessoas que servem nas cortes celestial de Deus?
Que os “últimos dias” começaram em 1914, e que quando o apóstolo Pedro (em Atos 2:17) falou dos últimos dias como se aplicando de Pentecostes em diante, não queria dizer os mesmos “últimos dias” que Paulo mencionou (em 2 Timóteo 3.1)?
Que o ano de 1914 foi o ano em que Cristo foi oficialmente entronizado pela primeira vez como Rei sobre todas a terra e que essa data do calendário marca o início de sua parousia?
Que quando a Bíblia diz em Hebreus 11.16 que homens tais como Abraão, Isaque e Jacó estavam “procurando alcançar um lugar melhor, isto é, um pertencente ao céu”, não há possibilidade alguma disto significar que eles teriam vida celestial? (8)

Franz relata que a “vasta maioria das Testemunhas de Jeová não tem qualquer acesso aos arquivos do passado”, nem de como funciona a estrutura central do poder. “Ficam elas à mercê dos redatores”. (9) É verdade. Acontece também com outras religiões. Às vezes a base desconhece até as doutrinas básicas ditadas pela elite dominante. O prejuízo ainda é maior, no caso sob exame, porque a base não pode usar da liberdade, que deve ter todo ser humano, de examinar as Escrituras e expor seu pensamento livremente. Há, como diz Franz, um controle das consciências. Como discordar de homens que se dizem ungidos, canal de Deus, única organização verdadeiramente divina? Ao discordar, pensam, estão discordando do próprio Deus. O domínio se completa com a exigência de serviço gratuito e permanente mediante apresentação regular de relatório das atividades diárias. Vejam o lamento do homem que conheceu todas as etapas desse trabalho em prol da Sociedade Torre de Vigia:
“Tendo gasto a maior parte de minha vida [inutilmente, acrescento, do ponto de vista de crescimento espiritual e salvação em Jesus Cristo] esforçando-me em dirigir pessoas para Deus e seu Filho, descubro que essa organização vê tais pessoas como se fosse um rebanho dela, responsáveis perante ela, sujeitas à vontade dela. Algumas decisões iniciais, baseadas em apresentações falsas da vontade de Deus, produziram efeitos que parecem praticamente irreversíveis. Ainda sou acometido de um sentimento de vazio por dentro toda vez que penso em deixar para trás uma esposa sem nenhum filho ou filhas que lhe proporcione apoio e conforto emocionais, ou que cuide talvez de suas necessidades econômicas de maneira mais adequada do que eu possa fazer nos anos que ainda me restam”. (10)

O Império do Medo e do Ódio

O conjunto de normas proibitivas e o massacrante controle das atividades de cada membro, e, ainda, o ensino errôneo de que a organização é autêntico canal de Deus, ajudam a manter o rebanho sob pressão. Cid e William, que por vinte anos trabalharam para a sociedade, revelam que “muitos membros que já perderam grande parte de sua fé nos ensinos dos homens do Corpo Governante”, ainda assim continuam na sociedade, pelos seguintes motivos: “medo de perder a família e amigos em caso de desassociação; medo de ser destruído na Guerra do Armagedom por se achar fora da “Arca de salvação”, a organização de Deus; medo de não ser ressuscitado, caso venha a falecer fora da organização; medo de “faltar chão” ou não haver vida fora da organização; medo de ver a boa reputação destruída por meio de boatos maldosos; medo de perder o emprego ou tratos comerciais importantes com Testemunhas de Jeová”. (11)
Após tomarmos conhecimento das proibições de vacinas e transfusão de sangue, causa de um número não revelado de óbitos, chega-se fatalmente à triste conclusão de que os dirigentes dessa seita não têm misericórdia. É sintomático como tratam os que de modo espontâneo deixam a Sociedade. “O Sr, Stanley High, escritor e ex-redator do Reader´s Digest [Revista Seleções], num artigo que escreveu no jornal Saturday Evening Post, edição de 14 de setembro de 1040, assim conclui: `As Testemunhas de Jeová odeiam a todos, e procuram tornar este ódio recíproco´. Em seu livreto “Jehovah´s Witnesses” W.R.Martin, à página 14, tratando deste assunto, diz: `Para os que desejam mais prova documental sobre este ponto, indicamos as próprias publicações deles. A Watch Tower de dezembro de 1951, ler bem o que se acha nas páginas 731 a 733, nas quais as testemunhas demonstram a pior traficância do ódio. Outro material precioso sobre isto se encontra na mesma revista, edição de outubro de 1952, páginas 596 e 594, onde se aconselha às testemunhas a manifestarem puro ódio aos inimigos da Teocracia” (12)
O que sobressai das declarações oficiais da própria Sociedade é a falta de respeito pelas vidas sob sua direção e controle. Leiam: “No passado, milhares de jovens morreram porque colocaram Deus em primeiro lugar. Ainda há jovens assim, só que hoje o drama acontece em hospitais e tribunais, tendo como questão as transfusões de sangue”. (13) À página 9 da mesma revista, sob o título “Jovens com Poder Além do Normal”, conta as histórias de três destas crianças que morreram depois de recusarem tratamento com sangue”. Há, portanto um incentivo ao suicídio, ao desprezo pela vida em prol de benesses celestiais garantidas pela estrita obediência à Sociedade. Tempos depois, tal como aconteceu com as vacinas, surge uma “nova luz” e o que era pecado mortal passa a ser a expressa vontade de Jeová. À vista disso, as famílias das vítimas podem requerer em juízo vultosas indenizações, mas não o fazem por medo do famigerado processo de desassociação. Ou porque simplesmente atribuem à vontade de Jeová a perda de entes queridos.
É próprio das seitas imporem uma fidelidade extrema à organização, sem a qual, dizem, o membro não herdará bênçãos divinas; próprio delas, também, o ensino de que Deus somente atua sobre aqueles que estão sob sua proteção, que visitam seus templos, que recebem a unção de seus ungidos.

Viagem Sem Retorno
Quando afastados, ou quando apresentam fraco desempenho no trabalho (venda de revistas, visitas, freqüência às reuniões), os servos da STV aceitam a repreensão dos superiores e a rejeição de seus pares, por julgarem que é da vontade de Deus. Wilson Gadelha, ex-ancião da STV, assim relata: “O tratamento dispensado a todos que passam pela desassociação (expulsão) e dissociação (solicitação voluntária para sair) é totalmente contrário ao amor demonstrado pelo filho de Deus. No entanto, esse ensinamento impiedoso não é questionado entre as Testemunhas de Jeová. Ele é simplesmente aceito, por incrível que pareça, como instrução baseada na Bíblia”.
O medo de enfrentar uma situação de desprezo por parte de velhos amigos e da própria família leva muitos a permanecerem na Organização como não praticantes, inativos, isto é, contra a própria vontade. Leiam o testemunho de uma assídua leitora da página www.testemunha.com.br:
“Até um ano atrás todos os objetivos de minha vida tinham apenas um foco: meu serviço de corpo e alma à organização que achava ser de Deus. Mudar essa conclusão em minha vida era o mesmo que morrer espiritualmente… Era um sentimento de infinita dependência a um compromisso mental com o serviço que aprendi a fazer como sendo somente para Deus… Ao menor sinal de mudanças nessa maneira de pensar, ia logo ao desespero total e chegava a ter pesadelos, pois achava que poderia estar me tornando uma mulher iníqua. Era bem aí nesse terreno que jorravam mil sentimentos de culpa por estar diminuindo o passo. Para mim, foi um grande alívio saber que posso estar lá na congregação, `meio livre, meio presa´, no meu cantinho lá no salão. É tão bom agora sem todos aqueles medos absurdos de reduzir minhas horas de campo ou recusar um privilégio congregacional sem achar que estou desagradando a Deus… Mas você entende minhas razões, não é?! Minha família, filhos, marido…! Morro de medo que eles venham a descobrir o que leio sobre a organização na Internet. Suportaria (sem problemas) o desprezo da organização, mas não saberia o que fazer sem o amor e amizade dos meus filhos e marido“.
Infelizmente, essa senhora, “meio livre, meio presa”, ainda não encontrou a verdadeira liberdade em Cristo Jesus. Está como uma borboleta parcialmente presa ao casulo. Deseja voar, mas não pode. Contempla os campos verdejantes, mas algemas invisíveis tolhem seus movimentos. Quem está “meio livre” não está totalmente liberta. Geme, ainda, sofre ainda diante do jugo opressor. O caminho da salvação é para os fortes, valentes e decididos. Os vacilantes ficam pela estrada. Melhor será perder muitos amigos do que perder a vida eterna. Talvez ela já tenha lido: “Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará” (Jo 8.32). Com certeza, esta Verdade ainda não incendiou seu coração. Talvez o tenha queimado pela metade.
Para os que estão na mesma situação, coxeando entre dois pensamentos, num caminho de medo, ódio e incertezas, a rejeitar a voz do próprio coração, lembro as palavras de Jesus Cristo, a quem devemos servir:
“Se alguém vier a mim e não aborrecer [amar menos] a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo; e qualquer que não levar a sua cruz e não vier após mim não pode ser meu discípulo” (Lc 14.26-27).
A nossa lealdade e amor a Jesus devem estar acima de todos os demais vínculos, inclusive os relacionados à nossa própria família.
Referências:
Franz, Raymond, Crise de Consciência, 1a Edição, p.265.
Ibid.p. 412
Ibid. p.495
Cid F. Miranda e William V. Gadelha, A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová, 1a Edição, p.235.
A Sentinela, 15.12.1981, p.21
Franz, Raymond, Crise, p. 425
Ibid. p.324
Ibid. p.337/8
Ibid. p.439
Ibid. p.431/2
Cid e William Gadelha, A Verdade, p. 297.
www.profecias.com.br/explicação/transfusão.htm
www.ajwrb.org/foreign/abstain-port.shtml(Revista Despertai, 22.5.1994, p.2).
www.palavradaverdade.com
01.12.2004

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